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Foto do escritorPhD. Roberto Simões

Atualizado: 21 de jun. de 2022




Aqueles que ficam e lutam!


Todo yoga carrega consigo um jeito de lidar com o sofrimento humano. Cada ser humano está inserido numa coletividade. Por isso, cada yoga é singular e comunal.


YogiNIs contemporâneos encontraram o mal-estar capitalístico e inventaram formas diferentes de lidar com ele. Alguns associando-se a eles, outros como se não existisse (ou fosse “passar”), alguns poucos ficam, resistem e lutam.


Foi um yogi budista do Vietnã 🇻🇳 - Thich-Nhat-Hanh - que, atravessado pelo sofrimento da guerra que explodia fora dos muros do seu templo entre os anos 60-70, q melhor lidou com o mal-estar do capital, e inventou o Mindfulness. Um modelo de cura ao ódio capitalista.


Não por coincidência, esse jeito “comunista” de yogar|meditar foi capturado pelo capitalismo, e hj é comercializado para “aumento de performance” e “gestão do estresse” contra os infortúnios da aceleração cotidiana q eles mesmos veneram.


Os yogas e yogiNIs capitalísticos surgem desse mercado espiritual: competitivo e individualista. São yogiNIs, empresários de si-mesmos e gestores do sofrimento psíquico, além de potencializadores performáticos. Estes se desviaram da ética yoguica desalienante (fim da ignorância) e ajudam com seu oposto nos coletivos em q habitam.


São contraditórios, mas se “esquecem” disso, por ignorância, cinismo ou sadismo.


Foi uma dupla transformação: yoga-mercadoria extrai cansaço corpóreo, com isso aumenta a demanda por seus próprios serviços espirituais de relaxação e, descansados, esses pequenos capitalistas (adeptos do yoga) conseguem agora, produzir e consumir mais “espiritualmente”.


O {{estresse}} se transforma no novo klesa|obstáculo, o {{relaxamento}} seus samadhis, e moksa|nirvana se cristaliza numa espécie de busca pela {{homeostase divina}}, fecham a ética dos adeptos da CONFRARIA YOGUICA DO CAPITAL.


Mas enqto os yogas capitalísticos “analisam o nicho espiritual” de suas neuroses, e os yogas conservadores mantram ao retorno de seus passados imaginários e paranóicos, os nômades resistem e lutam inspirados por monges vermelhos do Vietnã 🇻🇳 e outres que insistem em viver suas alteridades, apesar de…

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Atualizem vossos títulos, é esse ano.

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Foto do escritorPhD. Roberto Simões

Atualizado: 30 de jul. de 2022


Há um discurso hegemônico que “pegou” sobre a história do yoga: o primeiro é haver uma história linear de acúmulo de conhecimento yoguico da pré-história até o Vedas; a segunda é que o YS seria sua primeira sistematização “lógica e racional”.


Por escavações arqueológicas sabemos que existiram povos originários não-védicos, os drávidas, onde um proto-yoga poderia já existir (mas de um “jeito” que não conhecemos). Eram coletivos urbanos e com intenso contato comercial com os povos da Suméria e Mesopotâmia (hoje o sul do Iraque e Síria e politeístas). Portanto, é lícito pensar conviverem com tradições religiosas múltiplas.


Outro achado são sinetes de barro em que aparece alguém (aparentemente) em mulabandhasana, atribuído a Shiva, portanto, a pré-história do yoga surge desde tempos remotos entre os drávidas e não arianos (coletivo q deu origem ao povo védico).


Então da de onde veio o yoga? Isso é um mistério ainda. A presença do yoga nos textos védicos (cultura aryana e não dravídica) são difusos e muito discutíveis; o que se sabe é haver relatos de prováveis yogis nos hinos do Rigveda do livro X, p.e., mas como referência a “ascetas extremamente poderosos, de longos cabelos” que fascinam o poeta védico que o contempla.


É só tardiamente, nas upanishads, onde a cultura védica é “substituída” pela bramânica, que um filósofo vedantino (Shankara, século VII-IX) discorre explicitamente sobre o Yoga. Assim, os textos do Vedanta sobre Yoga são versões bramânicas sobre o tema, sacou? É irada, mas é uma dentre outras tradições yoguicas. No século X surge os rolês da tradição dos hatha-yogiNIs, com uma nova pegada com forte apelo budista, tântrico e sufi (mística do islã).


O atual governo de extrema-direita hindu da Índia tenta fazer colar que a cultura dravídica (povos originários do continente indiano) é uma proto-cultura sânscrita, ou seja, proto-hinduísta por tabela e montou até um ministério do yoga (a la Damares). Mas as origens do yoga se perdem no tempo e tudo leva a crer haver inúmeras tradições yoguicas, sem origem-raiz, mas rizomática|nômade.


E você faz parte dela hoje.

Esses yogas que exaltam o Oriente como “berço da sabedoria espiritual” perdida com a “racionalização” Ocidental é fruto de uma representação europeia que herdamos como colonos. É de uma imensa contradição os que defendem tal ponto, pois jogam o jogo oposto da proposta yoguica: o fim da alienação. A desalienação (vidya) exige alteridade, ou seja, saber de sua singularidade pela diferença do Outro.


Mais simples, a práxis yoguica exige certo grau de isolamento, de encontros com a solitude e silêncio, não para exacerbar um individualismo competitivo narcísico de quanto eu sou + em comparação, mas que eu sou primeiro, e após como as interações com outros do meu coletivo me afectam, produzindo contradições a superá-las. Esse é o princípio básico. O yoga como símbolo oriental Virgem, puro, paradisíaco foi construído como representação do que europeus gostariam de estar vendo. É a “chance” de restarte da desilusão depois de suas próprias espiritualidades “estarem corrompidas”.


Entrementes, esse processo causa uma total alienação (avidya), tanto entre muitos yogiNIs indianos modernos (“orientais”) quanto aos yogiNIs “ocidentais” (outra invenção), que vivem acreditando num “santíssimo Graal” yoguico que preservam numa “arca da aliança” na tronqueira de suas salas de prática, como proteção a todos os “espíritos zombeteiros” que apontam suas contradições ou vivem “yogas diferentes”.


Conhecer a si-mesme exige escapar da dívida infinita espiritual inculcados do yoga como fetiche|feitiço. Para isso só uma contra-demanda que desanime yogas-mercadoria e yogas-igreja. Para isso acontecer muita arruda, suryabedhana e a malandragem do estar à espreita.


Atualizado: 30 de jul. de 2022


Sim. Gosto desse blá todo de nomadismo, livre-pensador, não ser capturado pelos aparelhos conservadores de ordenamento das realidades yoguicas, mas no dia-a-dia, eu dando minhas aulas aos alunos e|ou na minha prática meditativa pessoal, como é a aplicabilidade dessa filosofia “esquizoyoguica” e “bonsensual” que você fala tanto?


Então vamos lá. Muito inspirado nas minhas observações do Método Restaurativo da Profa. Miila Derzett, há 20 alunos na sala e a liberdade yoguica é construída na prática. Primeiro, é necessário ter claro o respeito pelo conhecimento dos alunos, eles não são receptáculos do “saber tradicional”. Ninguém está vazio a ser preenchido por você: quebra-se imediatamente a barreira professor-aluno; são todos professores-alunos. Sendo mais prático ainda: se há uma torção a ser realizada, as opções são de pé, sentado ou deitado + a opção “não vou fazer”, ou prefiro só deitar e alongar agora ou apenas sentar e meditar ou me pendurar na kurunta ou cantar o pai-nosso ou um ponto de oxossi.


“Mas aí vira um caos!”.

Para você e seu ordenador de realidade e o desse alune? Tu sabes qual é o ordenador de realidade dele? Você, ao contrário de um “professor tradicional”, aquele, em geral, fez um curso de formação X ou Y. E agora tiozão?


O propósito dos yogas não deveria estar na execução mecânica de gestos coordenados em conjunto. Yoga é um processo ritual (sim, de Victor Turner em seu “Floresta de Símbolos) - quem já estudou comigo no curso de formação em Yoga Restaurativa da Profa. Miila Derzett ou participa da plataforma ead sabe que me refiro. Um ritual yoguico está longe da organização das aulas de fitness ou balé, e está mais próximo à pedagogia freireana e do contemporâneo nas artes.


As práticas rituais yoguicas nomádicas são pautadas no processo dialógico e do encontro, e não da repetição e do “ajuste”. Nós, contemporâneos, já compreendemos que repetir gestos (asanas, pranayamas, mantras, etc.) por repetir, imitando exemplos, não serve. Não há universais e um Self a atingir. Mas também “selfies” únicos, singulares e sempre em devir.


As práticas rituais yoguicas nomadicas então, visam viveka (discernimento ou alteridades, o oposto de alienação), muito mais do que samadhis. Já sacamos não haver asanas perfeitos a alcançar, nos livramos da esper(anç)a do “faz que vai dar certo”: não há o “dar certo”; o que há é diálogo e encontros. Por isso denomino a prática ritual nomadica de EsquiZoYoga: de diferente, o oposto das aulas “tradicionais” (ou modernas), pautadas na repetição de um modelo. Não há modelos.


O processo “prático” dos yogi(ni)s nomádicos visa (de forma lenta, gradual e dialógica) libertar da servidão voluntária yogi(ni)s que vivem sob a égide das consensualidades yoguicas dominantes que capturaram seus desejos, ou seja, os obriga a desejar os “desejos certos”. Os “professores nômades” não visam formas, mas os “corpos sem órgãos” (CsO), aqueles não capturados pela moral institucional yoguica ou “corpos não-docilizados”.


E agora, invertemos os sistemas de validação hegemônicos: a “medida” do “yoga certo” vai se deslocando das qualidades psicofísicas de aumento de força, flexibilidade, resiliência, fim do estresse para encontros tesudos com meu CsO. Em outras palavras, necessita-se envolver|permitir aos “alunos nomádicos”, durante as “aulas esquizoyoguicas”, abrirem suas próprias clareiras yoguicas; há um exercício de desapego a estes: ao invés do modelo, do “amparo”, do “fazer correto”, o diálogo e o devir-yoga se expressa pleno em seus “afundamentos” - não fundamentos, pois devir|transformação.


Há, assim, a transição do consensual yoguico ao bonsensual yoguico-devir, sempre singular. “Mais carai, mó trampo né?”. Sim, seu yoga então vai se movendo da “esteira de produção (neoliberal) de corpos yoguicos dóceis” para “oficina artesanais de corpos yoguicos insurgentes”. Dito mais simples, vai-se retomando os processos criativos em se viver com (e não do) yoga. O yoga aqui é plural. Em uma mesma “aula” 20-30 corpos|yogas surgem abrindo suas próprias formas de viver yogas. Você, “professor” se transforma junto, aprende e ensina junto, está em devir-yoga e, aquele desânimo, falta de tesão pelo yoga retoma sua potência, pois percebe seu propósito, que não está em ensinar yoga, mas participar “regando” novas vidas yoguicas a florir: não iguais a você (replicantes) e sua tradição, mas tantos outros infinitos yogas surgirem de seu “jardim” (sangha, shala, sala de prática, escola ou seilaoque).


Agora você percebe que ministrar aulas esquizoyoguicas para crianças é muito mais fácil do que na “alfabetização de adultos”, pois aqueles pequenos seres ainda não foram capturados pelas estruturas institucionais yoguicas que docilizam corpos e ordenam realidades “perfeitas em si-mesmas”: os corpos dóceis (capturados) “travam” entre os yogi(ni)s nômades e seus esquizoyogas (são esquiZitos demais a seus mundos yoguicos prontos).


A filosofia bonsensual yoguica, base dos yogi(ni)s nomádicos, não está isenta de conflitos e divergências, pelo contrário, essa é a garantia (pela força hegemônica narrativa) dos yogi(ni)s sedentários.



Referências:

DEBRUN, M. Sua tese de livre-docência na Unicamp, onde ele se



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