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Foto do escritorPhD. Roberto Simões

Os que são os klesas para o ioga? São as causas do sofrimento humano. A Ignorância, como primeiro klesa (lit.veneno) seria a "mãe" de mais 4 comportamentos nefastos a todo praticante/adepto a cosmovisão ioguica: Apego, Aversão, Medo da Morte e "Orgulho" ou a Falsa Identidade de Si-mesmo. Seriam os klesas que causariam o "turbilhão da mente/consciência" que nos enredaria mais e mais em um ciclo infinito de dor e transmigração da alma. A proposta do yoga "clássico" elaborado por um brâmane hinduísta (Patanjali) estaria em seguir um caminho espiritual de 8 passos: Yamas e Niyamas (espécie de código de conduta), Asana e Pranayama, que conduziria a Prathyahara (experiência/estado onde os estímulos sensoriais externos diminuiriam a sua influência interna), Dharana e Dhyana (a meditação propriamente dita) e Samadhi (uma espécie de epifania yoguica ou encontro com deus/Isvara). Qual a graça do artigo aqui na sua frente? Pensar os klesas como emoções e não como um "código moral" absoluto advindo de mundos transcedentes - mesmo porque o yoga não acredita na transcendência, mas na imanência. E como "expurgar" os venenos/klesas do corpo/alma/mente? Por meio de rituais de purificação como qualquer outra denominação espiritual/religiosa o faria também.

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Ao que tudo indica, as práticas corporais do ioga, estariam como rituais de purificação da ação nefasta dos klesas/Mal/demônios/estresse. Há inclusive uma das modernas escolas de ioga — o Asthanga Vinyasa Yoga do mestre Pattabhi Jois — que se destaca por suas rígidas séries de posturas combinadas com respirações, contrações musculares específicas e saltos, em que o objetivo está, literalmente (e [trans]fisiologicamente), na elevação do calor corporal no intuito de “eliminar substâncias nocivas ao corpo”. A orientação é praticar com janelas e portas fechadas para aumentar a sudorese e produzir o que eles denominam de tapas, como purificador energético e (trans)corpóreo.

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A expressão tapas, significa, literalmente, austeridade dentro da cosmovisão hinduísta em que o ioga nasceu, mas como deriva da palavra tap, pode exprimir também “fornecer calor” ou ainda “fazer-se quente” (SMITH, 2008, p.143–150). Vejamos a correlação possível em estabelecer o conceito de tapas com o samadhi, mas, sobretudo, de seu diálogo com o corpo do iogue e seus novos rituais de exorcismo/purificação do(s) corpo(s) :

Tapas provê ao devoto um “calor na cabeça” [head heat], transformando-o em um vidente. De um modo semelhante, o esforço da prática ascética acende o “fogo interior” [inner fire] da iluminação, em uma visão de êxtase. Como o rsis [feiticeiros hindus], o asceta, através de tapas, é capaz de “ver” [a sua Ignorância]. Neste contexto, tapas adquire a forma de um “meditar cognitivo” [cognitive brooding], ou “intensa meditação”. O poder aqui empregado para tapas é claramente de “poder contemplativo” (KAEBLER, 1989, p.145–146)

Com o calor corporal gerado pela prática ritual ioguica, o praticante pode alcançar a “iluminação” (ou samadhi) e ser capaz de “ver” como os antigos rishis ou feiticeiros hindus. Ou seja, para o ioga moderno, o corpo adquire caráter não só de “templo divino” — herdado dos hatha-iogues medievais indianos —, mas de referência no caminho espiritual e determinante no alcance de vislumbre da alma imaculada (purusa) ou estado permanente de equilíbrio — do poder de visão da plenitude que já somos – uma espécie de “redenção” cristã.

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Em outro artigo, a filósofa Anindita Balslev aprofunda essa discussão sobre a nova concepção dos klesas, aproximando-os aos conceitos da emoção. Segundo Balslev, o objetivo do ioga é diminuir as agitações da mente/consciência conforme o senso-comum do ioga proclama. No entanto, baseado nos comentários de Vyasa, ela explica, citando-o: “O rio chamado mente flui em duas direções” (BALSLEV, 1991). E Balslev continua:

A imagem das “duas direções” transformam o fluxo da vida mental. As duas direções são primeiro caracterizadas como fluindo em direção ao bem e através do mal (vahati kalyaanaaya vahati papaayaca), pelos quais expressam primariamente uma consideração ética. (…) fluir em direção a discriminação (viveka) e isolamento/salvação (kaivalya) é o bem, enquanto o que nos prende na existência neste mundo (samsara) é o mal, claramente indicando uma proposta soteriológica. (…) Esta metáfora da mente como um rio em duas direções, porém, adquire um significado técnico no Yoga-Sutras introduzindo uma divisão dos estados da mente, classificando-as em dois grupos: klista [ou klesa como dor espiritual e Mal] e aklista-vrtti [aquele vrtti em direção ao não-sofrimento ou Bem].

Em outras palavras, Balslev argumenta que a palavra klesa é utilizada sempre como sinônimo de dukha ou sofrimento no ioga antigo e medieval indianos, mas que dukha não é meramente o oposto de sukha ou prazer. O significado de klesa, segundo Balslev, é uma oposição à busca libertadora em direção ao rompimento do ciclo de samsara ou renascimentos (kaivalya). A autora busca os correspondentes emocionais dos klesas que nos acorrentam no ciclo de samsara. Mais do que destruir os venenos dos klesas, a proposta moral do ioga antigo poderia estar em afastar de tudo que nos prende na existência deste mundo (samsara).

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“Mas como nascem os klesas?”, pergunta Balslev. É um ciclo vicioso: nascemos ignorantes da natureza da alma pura e agitamos a mente/consciência; essa agitação produz comportamentos indevidos que nos tornam mais ignorantes. Este é o ciclo de samsara, a vida alienante espiritualmente, como já adiantamos em outra subseção. A filósofa argumenta que o klesa-Aversão viria das sementes da dor e a falsa cognição de certos objetos da mente/consciência. Estes, associados à dor, causariam sempre sofrimento, por isso, mesmo inconscientes, nos manteríamos afastados desses objetos, portanto, em aversão a eles. E o contrário também obedece a mesma lógica: o klesa-Apego nasceria das sementes do prazer e do desejo, o que nos manteriam conectados a eles. Assim, pondera Balslev, objetos mentais/conscienciais denominados de klesa-Aversão e klesa-Apego estariam associados aos sentimentos de retaliação, de malícia, da vingança e do ódio, e a sua contraparte, ao desejo, apetites e prazer. Segundo a filósofa, o desejo e o ódio seriam, portanto, os núcleos emocionais dos klesas-Apego e Aversão a serem evitados pelos iogues.

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Para a autora, o klesa-Medo da morte, incidiria do temor angustiante dos seres humanos em saber que vão morrer, mas não quando. O medo, assim, instalaria respostas de lutar ou fugir, a mesma resposta psicofisiológica inata associada ao eixo neurofisiológico do estresse. O klesa-Orgulho, por seu lado, nasceria do erro de julgamento dos correspondentes emocionais dos três klesas identificados anteriormente: os duplos Apego-Desejo, Aversão-Ódio, Medo da Morte-Medo. Segundo a autora, o klesa-Orgulho, possui sua raiz emocional no egoísmo e individualismo; pois, se nossa alma é perfeita em Si-mesma (purusa), conclui a autora, não haveria razão de sentirmos emoções negativas como desejo, ódio, medo ou egoísmo.

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Esses klesas, com núcleos emocionais, se manifestariam no corpo originando todo o tipo de malefícios físicos e mentais. Em suma, agitando a mente/consciência. Essas quatro aflições emocionais (Desejo, Ódio, Medo e Egoísmo), comenta Balslev, não estariam sempre presentes em suas formas totalmente manifestas. Baseada nos comentários de Vyasa ao Yoga Sutras — especificamente na descrição dos klesas encontradas no IS 2:4 — os klesas podem se apresentar dormentes (prasupra), atenuados (tanu), interceptados (vicchinna) e manifestos plenamente (udaara).

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A mente, como o Yoga o vê, é naturalmente atraída em direção a samsara. A mente é cativa dos klesas. Suas modificações incessantes estão, em grande parte, ligados a isso. Egoísmo, desejo, ódio e medo dominam a vida mental, mal dando-lhe uma chance para discriminar a si mesmo. Assim, falhando por causa da ignorância em descobrir a sua fundação não-intencional. O purusa carrega a ideia errônea sobre a natureza do eu: raiz do klesa asmita [ignorância]. Este, por sua vez, envolve-se mais com as polaridades que são características do redemoinho de existência que é samsara. Virtude e vício, prazer e dor, e apego e aversão são os seis raios da roda de samsara [ou ciclo de renascimentos]. Transcendendo o papel psicológico e ético da vida mental, a descrição soteriológica emerge. A vida mental é percebida não apenas como uma teia de estados coloridos com aflições; estes são interceptados por aqueles que se opõem a esta tendência. Para usar o imaginário do Yoga, estes aklista vrttis (movimento da mente não causador do sofrimento) produzem brechas que podem orientar para o conhecimento discriminativo (viveka) e para a salvação [kaivalya].

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Em resumo, pode-se pensar que há emoções que deveriam ser cultivadas para ajudar diretamente na criação de um estado de espírito apropriado, portanto, moral para a prática de ioga. Seriam essas emoções que, gradualmente e eventualmente, “purgariam” a mente/consciência de suas impurezas do espírito. No discurso de Balslev nos comentários de Vyasa, sob a estrita perspectiva fisiológica, as séries de Asthanga-Yoga do iogue moderno P. Jois, comentadas anteriormente, devem purgar mais do que apenas o suor produzido pelo calor corporal, incluindo também as impurezas dos klesas materializadas em emoções nefastas como desejo, ódio, medo e egoísmo, todos filhos emocionais do klesa Ignorância.

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Dispondo os klesas como emoções, Balslev argumenta que não seriam meramente consequência de uma ação, mas os principais responsáveis (motivação) pelas ações humanas; uma espécie de aspecto natural dos seres humanos ainda enredados na alienação da vida espiritual. Os klesas teriam, segundo a autora, uma natureza propulsora de ações e seriam responsáveis pela permanência dos homens e mulheres em samsara, a vida infeliz. Balslev esclarece ainda que a mente/consciência (citta), na filosofia do ioga, seria espontaneamente cativa dos klesas. Purusa ou alma, que é imaculada e perene, ou seja, não contaminada pelo corpo/emoções, é o objetivo do ioga. Kaivalya, então, significaria o retorno da nossa mente/consciência, livre das perturbações emocionais dos klesas (interpretadas aqui por egoísmo/Orgulho, desejo/Apego, ódio/Aversão e medo/Medo da Morte), ao estado de equilíbrio eterno de purusa ou alma. Sendo a Ignorância ou alienação espiritual, a matriz dos klesas, a busca espiritual do yogue estaria em conhecer a verdade por trás das perturbações conscienciais vindas dos klesas (BALSLEV, 1991), esta eterna e absoluta.

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Outro ponto ressaltado pela autora está não somente no puro e simples “cessar da mente”, mas no interromper do fluir da mente presa na “direção” das emoções atreladas aos klesas. Assim, as práticas do ioga deveriam conduzir o devoto ao arrefecer da influência dos klesas, e, sobretudo, fluir em direção oposta ao fluxo das emoções manifestas psicocorporais dos klesas. Em palavras mais simples, em vez do Desejo (núcleo emocional do klesa-Apego), as práticas e escrituras ioguicas visariam a conquista do Desapego; do Ódio (klesa-Aversão) ao Amor; do Medo (klesa-Medo da Morte) para a Coragem frente à Vida; e do Egoísmo (klesa-Orgulho) ao sentido da Compaixão. As práticas de ioga, sob essa perspectiva, poderiam ser compreendidas por rituais de cura de emoções nefastas específicas que podem, de alguma forma, revelar doenças psicofísicas pela nova cosmovisão mítica ioguica moderna.

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Mesmo que os klesas possam não ter valor moral ou imoral, racional ou irracional, o iogue, sabendo por suas escrituras (e experiência psicofísica e espiritual) via prática ritual que os klesas os mantém em samsara — portanto, em uma vida infeliz e longe de kaivalya —, se torna moral ao buscar uma vida em direção à Sabedoria (oposto do klesa-Ignorância), ao Desapego (oposto do klesa-Apego), ao Amor (oposto ao klesa-Aversão), à Coragem (oposto ao klesa-Medo da Morte) e à Compaixão (oposto ao klesa-Orgulho).

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Mas essa busca espiritual (sadhana) em busca de Deus/Bem-Aventuraçã/Aumento da Performance ou qualquer outra denominação que faça mais sentido a você, precisa, obrigatoriamente, passar a fazer sentido ético em sua vida, ser uma ficção que o faça superar as "tretas" mais profundas do seu ser.

Prof.Dr.Roberto Simões

Atualizado: 9 de ago. de 2022


A meditação é uma prática ancestral que se perde no tempo a sua origem. Entretanto, a sua primeira sistematização como método religioso pode ser encontrada dentre as escrituras hinduístas (Yoga-Sutras), por volta do século II a.C.; e definida operacionalmente como a “diminuição voluntária das modificações da mente/consciência” para comunhão com Deus (ELIADE, 2000, pp. 88-101).


A meditação, contudo, foi sendo adotada por diversas outras religiões, como o budismo, o taoísmo, o islamismo, o judaísmo e o cristianismo, para citar algumas (KAPLAN, 1985; ODIER, 2003; KUGLE, 2012; HOLLYWODD & BECKMAN, 2012; EIFREN, 2015, pp. 3-16). Em cada uma delas, no entanto, técnicas específicas foram sendo elaboradas para cada método, tradição ou escola de pensamento.


Por técnica meditativa pretende-se compreender o formato da meditação propriamente dita - como as meditações baseadas em visualizações, recitações, observação dos pensamentos e/ou ritmos corporais e respiratórios e outros. Por método meditativo significa ampliar o entendimento da meditação como o complexo espiritual em si que envolve:


1) a técnica, mas também

2) as escrituras que embasam a fé e crenças dos adeptos,

3) as experiências advindas de cada prática realizada, e por último,

4) a comunidade que legitima, mantém e troca os bens espirituais envolvidos durante e após a meditação.



Para exemplificar a diferença entre técnica e método meditativo, podemos dizer que no Budismo, a técnica meditativa do Mindfulness foi desenvolvida pelo método Theravada, e a técnica da Compaixão pelo método Mahayana. Entre alguns dos métodos meditativos da religião Daoísta, podemos indicar a técnica do Sentar e Esquecer do método Shang Qing (lit. Clareza Suprema). Entre os muçulmanos, uma das técnicas meditativas do método sufi é a recitação do Dhikr (ou invocação de Allah). No judaísmo, por outro lado, prevalece as técnicas de visualização, especificamente no método meditativo do Hassidismo. E dentro do método Místico Cristão Oriental, as técnicas meditativas silenciosas, são bastante utilizadas em detrimento à outras (EIFREN, 2015, pp. 6).


Contudo, a partir dos anos de 1900, os estudos sobre meditação foram adotando nuances neurobiológicas e biomédicas, que culminaram a partir dos anos de 1990-2000 as neurociências em dialética com as experiências místicas de meditadores de diversas religiões. Em 2000, o antropólogo da religião Eugene D’Aquilli e o neurocientista Andrew Newberg publicaram um estudo aonde apresentaram as bases neurobiológicas da meditação e a produção, segundo eles, da “mente mística”, buscando explicar a origem da religião por meio das neurociências (D’AQUILLI & NEWBERG, 2000). Este trabalho, foi um dos primeiros a conduzir experimentos neurocientíficos durante processos meditativos religiosos e demonstrar que, as repercussões encefálicas entre métodos e técnicas religiosas diferentes, poderiam produzir resultados neurofisiológicos semelhantes e experiências religiosas díspares (NEWBERG et al, 2003)[1].


Os estudos em torno da meditação crescem em volume exponencial a partir dos anos de 2000, tanto na academia quanto em livros populares. Nunca uma prática ritual religiosa havia sido tão investigada pela biomedicina com aplicações terapêuticas. Tanto que hospitais, escolas e outros setores da sociedade começaram a introduzir programas de meditação, em vistas as respostas benfazejas para a saúde em indivíduos com dificuldades emocionais e atentivas. Um dos exemplos mais emblemáticos é o Center for Mindfulness da University Massachusetts Medical School, inaugurado em 1979 pelo biólogo Jon Kabat-Zinn.


Com o objetivo inicial de tratar de forma alternativa “pacientes em condições crônicas para quais os clínicos não poderiam oferecer mais ajuda”, surgiu o Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR), um programa de redução de estresse inspirado nas técnicas meditativas do método budista Theravada (GERMER et al, 2016, pp.11). Em 2012, Kabat-Zinn contava já com mais de 700 programas de MBSR inaugurados em universidades e hospitais do mundo, vindo a se tornar um dos instrumentos psicológicos mais utilizados academicamente para induzir níveis ótimos de relaxamento e melhora na qualidade de vida através da meditação.


As repercussões psicofisiológicas positivas que a ciência biomédica apresentava sobre os efeitos da meditação, possibilitou diversas outras técnicas serem transplantadas de suas religiões originais como “terapêuticas espirituais” por medicos, professores, psicólogos e toda uma gama variada de outros profissionais. Esse fato parece ter legitimado a meditação religiosa fora dos consagrados métodos com fins a união com Deus. Hoje, inclusive, é possível conceitualizar a operacionalidade da meditação em termos não-religiosos (HARRIS, 2015, pp.130-133), algo impensável em tempos passados.



Em uma pesquisa conduzida em 2004, apresentou a primeira definição operacional de meditação fora do escopo religioso. Segundo seus pesquisadores, toda prática meditativa deve obedecer 5 princípios:


1) ser necessariamente auto-induzida;

2) relaxamento muscular e da "lógica" em algum momento do processo,

3) e se utilizar de um foco-de-atenção, denominado de “âncora”;

4) uso específico de uma técnica;

5) haverá "looping's", ou seja, momentos que perdemos a âncora (CARDOSO et al, 2004).


Entretanto, mesmo que cientistas busquem desvincular as diversas técnicas de meditação de seus antigos métodos religiosos, ela (a meditação) parece insistir em se aproximar da sua antiga religiosidade. Uma pesquisa realizada em 2010 e outra em 2018, atentaram para a possibilidade de alguns cientistas, que se utilizam e pesquisam técnicas meditativas para a saúde e promoção de bem-estar, estarem se aproximando seus discursos a conteúdos religiosos (NOGUEIRA, 2010; SIMÕES, 2015, pp. 108-115)[2].


Essa expansão do interesse sobre a aplicação laica e religiosa da meditação advindas das suas repercussões neurobiológicas, permitiu que a Ciência da Religião erigisse um novo campo do saber: a Neurociência da Religião (GRASSIE, 2010, pp.93-110). As pesquisas desta nova área tem possibilitado a pesquisadores investigarem as experiências religiosas por outra perspectiva que não a filosófica ou neurobiológica, pois questiona o reducionismo fenomenológico das experiências religiosa e corrobora com o caráter multidisciplinar de seus estudos (USARSKI, 2004). A meditação, assim, antes uma prática exclusivamente com fins à ética religiosa e parte intrínseca de complexos espirituais, na modernidade, foi ganhando contornos científicos, mas fomentando novas técnicas e metodologias surgirem.


Entretanto, é possível perceber que a meditação não se "desencantou" com a sua aproximação das ciências biológicas, muito pelo contrário, absorveu signos da Ciências. Por exemplo, é crasso perceber que a antiga fisiologia "sutil" do yoga, como nadis, chackras, kundalini e prana foram sendo ressignificadas para sistema nervoso simpático-parassimpático, glândulas endócrinas, membranas celulares e oxigênio, respectivamente.


Outro ponto interessante que demonstrei em um estudo de 2015 (SIMÕES, 2015) é o surgimento de novos agentes religiosos no campo espiritual yoguico brasileiro (e do mundo), os cientistas-gurus-meditadores, como Allan Watts, D.Chopra e Amit Goswami entre outros. Esses novos personagens incorporam parte de seu capital científico para legitimar as novas narrativas da meditação contemporânea.


Novos estudos precisam ser realizados sobre o yoga e a meditação nas sociedades modernas, mas já se consegue vislumbrar um panorama interessante de estudos científicos que fogem do escopo terapêutico e exegético da meditação, um campo recente que produz perspectivas "humanas" do assunto, ou seja, que analisa as nuances históricas, sociológicas e antropológicas da meditação como um processo ritual espiritual que, por detrás de todo discurso científico que o sustenta, está sua verve de busca espiritual. Conceitos como "aumento da performance humana", "eliminação do estresse", "homeostase quântica", "conquista de bem-estar", "vida plena" entre outros, podem revelar o Yoga (tendo a meditação como seu principal sistema de atos) a partir de uma "nova" religião em desenvolvimento no Brasil já totalmente desvinculado do Hinduísmo (SIMÕES, 2015).

Bibliografia

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Notas

[1] Especificamente, investigou-se 8 monges budistas do método Theravada em técnica de visualização comparados com 5 freiras que praticavam o método meditativo fransciscano, este baseado na técnica da verbalização.

[2] Além disso, ver a aproximação religiosa e científica de Amit Gowami e Fritjof Capra em Nogueira, 2010.


Resumo

O presente artigo busca apresentar a história e influências dos primeiros personagens do ioga na América Latina. Há uma lacuna de investigação sobre o ioga latino-americano entre os anos de 1900-1950, quando ainda não havia chegado aqui nenhum iogue indiano. Esse insulamento, ao invés de atrasar o advento da religiosidade ioguica trouxe problemas e soluções exclusivas que cinco personagens-chaves buscaram responder, proporcionando uma certa singularidade na concepção do ioga latino-americano. Escolho Katherine Tingley, Cesar Della Rosa, Leo Costet, Serge Raynaud e Don Benjamin pois foram estes os primeiros a introduzirem, as suas maneiras, um proto-ioga na América Latina. Diferentemente da Europa e dos Estados Unidos, que receberam, neste mesmo período, as suas primeiras instruções ioguicas pelas mãos de indianos, os latino-americanos erigiram explicações próprias pelas mãos de iogues não-indianos. E mesmo parecendo “espontâneo” e “contemporâneo” pensar o ioga em escolas, hospitais e emprestando seus signos a outras religiões, essas “coincidências” podem ser fruto de uma pré-estrutura erigida desde 1900 em trocas simbólicas realizadas pelos peesonagens acima.

Introdução

O ioga latino-americano também sofreu modificações como em outros países, sobretudo da teosofia, da educação física, da biomedicina e da economia capitalista de consumo (SINGLETON, 2005). Entre os latino-americanos, igualmente a outros continentes, emergiu o que acadêmicos modernos denominam de Ioga Postural Moderno (DeMICHELIS, 2004), possibilitando compreender o ioga atual como uma espécie de prática religiosa do corpo (JAIN, 2014). No entanto, ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, o ioga latino-americano recebeu influências sóciorreligiosas diferentes, o que permitiu explicações e trocas simbólicas singulares (SIMÕES, 2015b). A título de exemplo, podemos ressaltar a representação ioguica Caminho do Coração do swami brasileiro Prem Baba, que sincretiza elementos hinduístas com o xamanismo amazônico (SIMÕES, 2015b); a Federação Internacional de Yoga, com base na capital uruguaia e que possui como patrono-fundador o italiano Cesar Della Rosa, um dos primeiros europeus a trazer o ioga na América-Latina; e o presidente e fundador da Associação de Yoga Cubano do Prof. Eduardo Pimental, o “grand-father” do ioga cubano, que afirma que os iogues cubanos, pelo bloqueio econômico que sofrem e as condições sociais em que vivem politicamente, desenvolveram um maior sentimento ioguico de desapego[1].

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Mas essas aproximações citadas acima teceram diálogo com iogues anteriores que deixaram seu legado entre os latino-americanos que produzem hoje centenas de cursos de formação para novos professores de ioga. Estes professores das mais diversas tendências espirituais vem atuando não só nos espaços tradicionalmente erigidos para as suas práticas rituais, mas em escolas, hospitais, postos de saúde, clínicas psicológicas, presídios e academias de ginástica de toda América Latina.

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Na literatura acadêmica, entretanto, há uma insuficiência investigativa sobre as influências religiosas do ioga latino-americano, sobretudo de um período anterior ao desembarque das instituições ioguicas indianas propriamente ditas com maior força a partir dos anos 2000 (SIMÕES, 2015b). O que busco ressaltar neste artigo é a presença do ioga entre os latino-americanos antes da chegada dos primeiros iogues indianos nos anos de 1960-70 (SAIZAR, 2018). Entre as décadas de 1900-1950, como veremos, cinco personagens-chaves foram pioneiros na disseminação da cultura ioguica latino-americana. A norte-americana Katherine Augusta Westcott Tingley, o italiano Cesar Auguste Della Rosa Bendió, os franceses Léo Alvarez Costet de Mascheville e Serge Raynaud de la Ferrière, mais o chileno Don Benjamin Guzman Valenzuela serão centrais na tessitura de um proto-ioga entre os latino-americanos. Eles influenciarão, cada um a seu jeito, “coincidentemente”, todas os iogues posteriores.

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A escolha destes cinco personagens-chaves se fez pela forma historicamente precursora do ioga na América Latina. Não há nenhum estudo acadêmico que se refira a esta pré-fase de transplantação do ioga nesta parte do planeta, por isso todo o meu trabalho de encontro a estes autores ocorreu conversando com os discípulos das ordens espirituais que estes atores sociais erigiram até hoje. Tingley, por exemplo, é citada pelo cubano Eduardo Pimentel como uma das primeiras a divulgar o ioga no seu país e dele fui investigar a sua história e influências, vindo a descobrir sua origem na Teosofia e projetos educacionais aonde a filosofia espiritual do ioga tece dialética com a ideologia de Tingley na formação de uma nova sociedade. Della Rosa e Leo Costet são bastante conhecidos entre os brasileiros devido a Igreja Expectante no Rio de Janeiro, e uruguaios e argentinos pela fundação o primeiro curso de formação de ioga em suas capitais; além de muitos escritos que os seus discípulos erigiram a respeito de seus professores. Como exemplo podemos citar o brasileiro Mestre DeRose, o frânces, mas radicado no Brasil, Jean Pierre Bastiou e o argentino Fernando Estevez Griego, ex-presidente da Federação Internacional de Yoga no Uruguai. Serge Raynaud possui uma de suas instituições espirituais em Brasília/Brasil, a Grande Fraternidade Universal, e uma de suas principais biógrafas é a brasileira Pamela Siegel, acadêmica da Universidade de Campinas/SP. E, por último, o chileno Don Benjamin Guzman foi o mestre de ioga de um dos principais professores de ayurveda no Brasil, o paulista Eric Schulz, que me forneceu todo o material da ordem esotérica Suddha Dharma Mandalam.

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Parece lícito afirmar, desta forma, pensar em uma pré-fase do ioga entre latino-americanos. E é justamente essa “fase zero” da chegada de um proto-ioga na América Latina, ainda negligenciada pela academia, que nos concentraremos no presente artigo descrevendo: a) Biografia, b) Influências, c) Veículos de divulgação, d) Repercussões e Legado que cada um dos nossos personagens erigiram no campo sociorreligoso do ioga latino-americano.

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Katherine Augusta Westcott Tingley

Dados Biográficos

Katherine Augusta Westcott Tingley é uma norte-americana, nascida em 1846 em Newbury no estado de Massachusetts/EUA, mas educada em uma escola católica em Montreal/Canadá. Ela trabalhou toda a sua vida como uma verdadeira assistente social, profissão que ocupou quando chegou em 1894 em Nova Iorque/USA. Praticamente neste mesmo período conheceu Willian Q. Judge, um dos fundadores da Sociedade Teosófica, ao lado de M. Blavatsky e A. Besant. Talvez de sua formação católica na escola derive a vocação para a caridade entre adultos e preocupação na instrução espiritual de crianças e a caridade com os menos favorecidos socialmente que permeou a sua vida.

A biografia da Sra Tingley nos revela uma teosofista idealista, mas que ultrapassa a teoria. Em 1895, houve uma acirrada disputa entre W. Judge e A. Besant, conduzindo a Sociedade Teosófica a uma cisão. Após a morte de Judge, em 1896, Tingley ocupa seu cargo de liderança na seção norte-americana da Irmandade Universal e Sociedade Teosófica. Alguns anos mais tarde, ela forma um grupo teosofista rival a de A. Besant com base em Nova Iorque. Talvez devido a isso, Tingley se dedica em seu espírito mais ativista, compreendendo ações fundando a International Brotherhood League, a Summer Home for Chlidren em New Jersey, além de uma casa para criancas órfãs em Ponit Loma/Califórnia, além de algumas escolas para crianças, as Raja Yoga Academy, contemplando a capital cubana - a primeira experiência no ensino dos fundamentos filosóficos e espirituais de um proto-ioga na América Latina em 1900.

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Ela acreditava que transformações sociais e espirituais, só poderiam ocorrer via reformas educacionais. Tingley também trabalhou, por exemplo, com prisioneiros e indigentes na cidade de Nova Iorque, criou um hospital-tenda para tratar dos veteranos da Guerra hispano-americana, também fundou, em 1913, o Parlamento da Paz e a Fraternidade Universal e, anos mais tarde, em 1919, quase como um braço das várias escolas infantis (Raja Yoga Academy) que erigiu pelo mundo, a Universidade Teosófica em San Diego/Califórnia.

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Já no final da sua vida, expande seus ideiais da Summer School for Children para a Europa, em Visingsoe, Suécia, aonde veio a falecer em 1929.

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Influências

Como sabemos a Teosofia, base filosófica e espiritual de nossa primeira personagem-chave, é a síntese de uma série de conhecimentos esotéricos muito mais antigos. O principal livro deste movimento religioso, e que o lança para ser conhecido mundialmente, foi escrito por M.Blavatsky em 1888, A Doutrina Secreta. Neste livro, Blavatsky congrega a sabedoria cristã, budista e hinduísta (sobretudo, a do raja-yoga sistematizado por Patanjali em seu Yoga-Sutras) sob o mesmo broquel. A aproximação da teosofia na interpretação do Yoga-Sutras de Patanjali é algo já corroborado por pesquisa acadêmica (JAIN, 2016, p.4). Podemos afirmar que a tendência atual em negar pertencimento a uma ou outra organização religiosa e a busca pessoal, por meio de vivências singulares, tenha surgido com novos movimentos religiosos como a Teosofia, no qual a nossa primeira personagem do proto-ioga latino-americano, Katherine Tingley, inspira-se para erigir e difundir seus ensinamentos, mesmo que difusos, na América Latina.

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A proposta proto-ioguica de Tingley e suas escolas cubanas deixam também o espírito de uma espécie de “cruzada espiritual” na disseminação do ioga em torno do mundo de perceber a plenitude que as vidas já possuem e, com isso, a convicção religiosa de que existe uma “harmonia perene” que já somos (GREUSEL, 1907, p.43; p.7-9; p.13; p.40). O ioga no Raja Yoga Academy, mesmo ausente das práticas corporais propriamente ditas, não se furtava em ensinar os princípios espirituais que todas as organizações ioguicas posteriores apregoarão também; ou seja, um proto-ioga “desvinculado” do hinduísmo como igreja institucionalizada, e muito mais próximo de uma “religião universal”, assim como swami Vivekananda, anunciava em seu livro O que é religião, publicado no fim do século XIX.

Em cada religião, aparentes contradições e perplexidades assinalam diferentes estágios de evolução. O objetivo de todas as religiões é realizar Deus inerente na alma. Esta é a única religião universal [referindo-se ao raja-ioga] (VIVEKANANDA, 2007, p.63).

Isso não significava que todas as religiões são raja-ioga, mas que seria uma religião “perfeita” para o momento da época (1896). E o próprio Vivekananda continua:

Analisando sua própria mente, o homem chega face a face, por assim dizer, com algo que jamais é destruído, algo que, por sua natureza, é eternamente puro e perfeito. Então, jamais será infeliz. Toda infelicidade emana do medo, do desejo não gratificado. Ao descobrir que nunca morrerá, o homem não mais temerá a morte. Quando souber que é perfeito, não mais terá vãos desejos. E ambas causas, estando ausentes, não existirá mais o sofrimento, mas sim a felicidade mais perfeita, ainda neste corpo (VIVEKANANDA, 2009, p.8).

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A implantação das escolas teosofistas de Raja Yoga cubano, portanto, compreendemos, podem possuir inspiração nos modelos educacionais que já se instavam entre os renascentistas indianos, como o Brahmo Samaj, idealizado em 1828 por Ram Mohan Roy, e no qual Vivekananda conhecia muito bem, pois discípulo de Ramakrishna, um dos líderes nacionalistas da Índia deste período histórico. Dessa forma, a busca por uma síntese entre a religiosidade indiana com a cristã, intentada por nossa personagem aqui, se faz bem antes e não é originária da Teosofia unicamente, por assim dizer. Mas, pelo atraso da chegada de iogues e do hinduísmo indianos em território latino-americano (SAIZAR, 2018), Katherine Tingley pode ser considerada a responsável por antecipar um certo proto-espírito renascentista que todos os iogues modernos trarão consigo.

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Katherine Tingley edifica em seu trabalho espiritual sob a influência teosofista e, de certa maneira, do espírito nacionalista indiano, em que as antigas instituições religiosas estivessem chegando a seu tempo, e novas e verdadeiras espiritualidades deveriam surgir na transformação social, política e religiosa.

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Veículo de divulgação do ioga

As escolas infantis de “raja-yoga” de Tingley visavam, segundo os seus comentaristas, restaurar “os mistérios perdidos da antiguidade” sobre uma elevada base espiritualizada com fins a despertar a “verdadeira dignidade” humana (FUSSEL, 1998). É preciso compreender que o proto-yoga ensinado aqui, se assemelhava muito pouco com o aprendizado de posturas psicofísicas e respiratórios, denominadas hoje por ioga postural moderno (DEMICHELIS, 2004). O “raja-ioga” de Tingley estava mais para uma perspectiva de ensino com base filosófica-religiosa moderna de não-dualismo do mundo, como a própria concepção de Raja-Ioga moderno é investigado (JAIN, 2016, p.4-5). O Raja-Yoga Academy de Tingley, assim, era uma instituição de ensino aonde o conceito unitário do corpo, mente e espírito tornavam-se a sua base de ensino.

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The children in the Raja-Yoga School at Point Loma begin in their tender years to find themselves in their efforts, in their mistakes, in their disappointments, without fear of punishment. They begin to find that knowledge is within, that the glory of God is within, that the divine life is within, and in the simplest possible way they move towards it, just as they would towards a flower in the garden (JONES & RYAN, 2007, p.448).

Como se pode perceber na citação acima, as crianças da Escola Raja Yoga eram encorajadas encontrar a si-mesmos – em seus erros e decepções – sem o medo da punição.

Nor can we move away from the spirit of forgiveness, because it comes right out of our divine natures. It breathes the Christos-spirit, it takes us away from our personality and our selfishness, and we have no more time to think of our wrongs. We ourselves, rather, must become an example to humanity which will challenge all thinking people to a deeper and more profound conception of life. Remember that they themselves are essentially divine, splendid qualities are sleeping within them. No matter how great the worldly success or the scholastic attainment, there must come that inward consciousness of divinity, best expressed in the spirit of loving and forgiving. When this is done, we shall know the meaning of eternal love, of eternal justice, and of the sacredness of marriage (TINGLEY, 1927).

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Tingley dissemina seus princípios crísticos de caridade e neo-hinduístas, sobretudo com a ideia de que todos os seres humanos sejam compreendidos como “essencialmente divinos” e não portadores de um “pecado original”. Há, portanto, na proposta proselitista do Raja Yoga de Tingley, um alinhamento em edificar uma “nova” espiritualidade no resgate da “verdadeira dignidade” humana (FUSSEL, 1998). O proto-yoga que Tingley divulga pela primeira vez entre os latino-americanos em Havana/Cuba, dessa forma, não se posiciona nem totalmente hinduísta (base teológica do ioga) ou exclusivamente cristã, mas algo “entre as duas”.

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Esse posicionamento entre um ioga cristão e hinduísta ao mesmo tempo reflete, em muitos fatores, com a proposta de “educação holística” da criança, incluindo o uso das artes para acelerar a aprendizagem espiritual. Tingley afirmava inclusive que o conhecimento do ioga poderia alavancar o “desenvolvimento das qualidades da alma, da construção de caráter e de obtenção de autocontrole”, base da espiritualidade das escolas infantis Raja Yoga Academy (TINGLEY, 1927).

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Repercussões e legado

Sem dúvidas, a principal repercussão e legado que Tingley nos deixa, é a possibilidade de introduzir princípios espirituais e práticas do ioga em instituições de ensino para crianças. Alguns anos antes de Rudolf Steiner inaugurar seu método de ensino com as escolas Waldorf, Tingley já possuía modelos semelhantes funcionando em algumas cidades do mundo.

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No capítulo The sacredness of marriage and the real child, do livro The Splendor of the Soul, que Katherine Tingley escreveu entre 1927-28, se torna uma espécie de “livro-guia” para os professores de suas escolas infantis. Aqui ela nos revela o seu intento com a escolas Raja Yoga como implantou em Cuba:

Boys and girls brought up in this way, with their thoughts rooted in the spiritual realities, will grow as the flowers grow, and by the time they have reached a point of decision, of selection of their life-companions, they will act slowly and understandingly, thoughtfully and wisely and rightly. They will realize that human life, rightly understood and rightly lived, is joy, and that this joy to be lasting must be built on high principles. Our power of service to humanity, our real joy, happiness, depend upon the education of the spiritual side of man — especially of the child (TINGLEY, 1927).

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Tingley acreditava na formação de uma nova sociedade a partir da pedagogia empreendida pelo Raja Yoga Academy, ou seja, a compreensão que uma nova realidade, pautada nos mais elevados valores morais, estavam na base da formação de novas crianças para um novo mundo a vir. K. Tingley eduacava as crianças como veículos de expansão para uma nova consciência espiritual.

With help in the skill of concentration, the students became practiced in silent, intense, efficient study (PARSONS, B. 1998).

The idea is of the simplest. The idea of Râja Yoga is to make a perfect mental, physical and spiritual balance in the human system. We do not believe in prodigies. We strive to have the growth of the child in all its elements perfectly synchronous. (...) Tomorrow we shall give you an idea of what their mental training has been (GREUSEL, 1907, p.43).

Portanto, é lícito pensar nas escolas de Raja-Yoga de Tingley como os primeiros centros educacionais para o desenvolvimento, segundo seus próprios intérpretes, de crianças (e futuros adultos) edificados nos princípios do silêncio contemplativo como forma de desenvolver uma certa convicção da presença de uma divindade inata e “pureza interior”.

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Cesar Della Rosa Bendió

Biografia

O iogue Della Rosa (1901-1955) nasce na Itália em 1901 e sua biografia, por falta de publicações próprias, é narrada de forma quase mítica por seus discípulos latino-americanos. Eles contam que Della Rosa tenha viajado para Índia, Nepal, Tibete e sido discípulo direto de Ramana Maharishi em peregrinação espiritual entre os anos de 1924-1939(?) pelo Oriente[2]. Mas nenhum desses fatos puderam ser averiguados fora do escopo de seu microuniverso social e religioso.

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Como quase todos os nossos personagens iniciais da história do proto-ioga latino-americano desse período histórico (1900-1950), as suas narrativas de vida são nebulosas e controversas. Se Della Rosa realmente foi discípulo direto de Ramana Maharishi ou tenha sido amigo de Sivananda não sabemos; o certo mesmo foi de sua aproximação como discípulo do iogue frânces Félix Guoyt (1880-1960), mais conhecido por Constant Korneiz, entre os anos de 1920-1930 e que, provavelmente, tenha sido o seu único e grande professor de ioga.

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Cesar Della Rosa desembarca no Uruguai em 1934, já com o nome iniciático swami Asuri Kapila para fundar a Federação Uruguaia de Ioga, aonde trabalha por mais de vinte anos organizando cursos de formação de novos professores de ioga no Uruguai e Argentina. Os mais conhecidos alunos de ioga d’Della Rosa foram Margarita Fanny, Fatima Escala e Carlos Ovídio Trotta. Após o falecimento d’Della Rosa em 1955 na capital uruguaia, Carlos Trotta foi considerado o seu sucessor e um dos responsáveis pelo início do ioga no Brasil.

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Influências

De toda a biografia de nosso personagem, o que podemos averiguar com certa procedência é que ele tenha sido discípulo do francês Korneiz. Constant Korneiz foi um conhecido astrólogo francês que começou a interessar por ioga no final dos anos de 1920 e a publicar livros sobre as práticas de ioga e saúde a partir de 1936 (JOSEPH, 2017). Desta forma, conhecer um pouco sobre o mestre d’Della Rosa pode nos revelar muito sobre as suas influências.

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O mestre de nosso personagem, Korneiz ou Félix Guoyt foi um leitor e/ou aluno do professor alemão George Buhler (1837-1898), reconhecidamente um intelectual, especialista em sânscrito e autor de diversos livros sobre as escrituras indianas. Uma das mais conhecidas obras de Buhler foi The Sacred Books of Hindus, publicado no final do século XIX. Buhler lecionou na França e na Inglaterra, mas foi na universidade de Oxford, até 1862, aonde trabalhou como catedrático e ganhou maior reconhecimento acadêmico como indologista. Relatos nos deixam propensos a entender que talvez tenha sido no período em que George Buhler lecionava na capital inglesa, que Félix Guoyt tenha estabelecido contato e se aprofundado nas escrituras ioguicas antigas sob sua orientação. Dessa forma, o ioga d’Della Rosa possui uma matriz sob a ótica muito mais europeia do que indiana, como seus discípulos acreditam.

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Veículo de Divulgação

Della Rosa busca difundir seu trabalho via suas “escolas de formação” no Uruguai e Argentina desde a sua chegada na América Latina. Assim como Tingley que ensinava os seus princípios proto-ioguicos para crianças cubanas, nosso segundo segundo personagem-chave, entretanto, utiliza-se do ensino a adultos como novos professores de seu proto-ioga nas capitais Buenos Aires e Montevideo. Ele percebe, talvez inspirado nos primeiros modelos que estão ocorrendo na Índia (como o caso do Instituto de Yogendra de ioga e/ou o Instituto Kaivalyadhama do swami Kuvalayananda) que, tão eficaz como educar crianças no “espírito” do ioga para o futuro, está em capacitar professores como multiplicadores do ioga no presente.

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Os cursos de formação para novos professores de ioga d”Della Rosa funcionam muito bem, tanto que ele formou muitos professores de ioga que irão difundir sua proposta em outros países latino-americanos, como o caso de Carlos Ovídio Trotta que fundou na cidade do Rio de Janeiro/Brasil, em meados de 1940, a Associação Brasileira de Professores de Ioga, Federação de Ioga do Brasil, a Federação Argentina de Ioga e a União Latino-Americana de Ioga.

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Cesar Della Rosa, entre os anos de 1942-1948, junto com outro de nossos personagens deste período do proto-ioga latino-americano (o frânces Leo Costet de Mascheville, que veremos a seguir), institui mais um veículo de divulgação ioguico: o Grupo Independente de Estudos Esotéricos (GIDEE). Juntamente a este grupo de estudos, lança a revista La Iniciacion, desempenhando forte poder de veículo de divulgação do ioga institucional que Della Rosa buscava expandir.

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O primeiro número da revista recebe o título de A todos aquellos que cansados de aprender, desean, por fin, saber, com um sumário que discorre sobre diversos assuntos esotéricos como o Martinismo, Astrologia e o Ioga. O tema de abertura abordado por Della Rosa discorre sobre o que ele denomina de Princípios de Yoga Mudra (DELLA ROSA et.al., 1945, p.11-14). Neste artigo Della Rosa descreve os mudras como símbolos não apenas secretos, mas “antigos caracteres sânscritos de eficácia mágica” (Id., p.12).

Los antiguos Hierofantes de Egipto, los Sacerdotes de todas las Religiones, los Iniciados, Cabalistas, los Lamas del Tíbet, etc., hablaban también, mediante las mudras, un leguaje místico y simbólico. La propia Iglesia Católica emplea ciertos signos mágicos. Los Papas reciben en e momento de la transmission de su alto grado jerárquico, una verdadera colección de mudras que les han de servir para transmitir la bendición. (Id.)

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Della Rosa não se furta, desde a sua primeira publicação, em veicular um proto-ioga já carreado de uma força mágica e secreta, mas que ele agora estava revelando ao público interessado. Outro ponto que merece destaque, é a aproximação dos “símbolos do ioga” (ou yoga mudras) com a instituição católica para legitimar seus discursos.

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Repercussões e Legado

O reconhecimento que Cesar Della Rosa adquire entre alguns grupos de ioga na América do Sul é inegável, sendo a título de exemplo, podemos citar a Sociedade Brasileira de Yoga Integral e as Associações Uruguaia e Francesas de Yoga que, ainda hoje, o consideram como uma espécie de “patrono” do ioga latino-americano[3].

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Mas o principal legado que Della Rosa nos deixa pode ser percebido na instituição ioguica moderna herdeira da sua proposta em vigência ainda hoje (2018), a Sociedade Brasileira de Yoga Integral:

A Sociedade Brasileira de Yoga Integral é uma escola que tem como especialidade a formação profissional em Yoga Integral. Somos referência nacional, e sede do Yoga Integral para todas as escolas filiadas no Brasil.

Desde a fundação de nossa escola o nosso objetivo não se limita apenas em formar professores. A missão da Sociedade Brasileira de Yoga Integral se baseia em formar futuros Mestres de Yoga Integral, criando novas escolas que servirão de base para a propagação de um curso de formação não focado apenas no desenvolvimento pessoal, mas também num desenvolvimento social-global e coletivo (MALELLO, 2018)

É evidente uma preocupação proselitista e expansionista da instituição Yoga Integral acima. Como eles mesmo dizem, a “missão” está em formar “Mestres de Yoga” e que estes “criem novas escolas” para “propagar” cursos de formação. Em outras palavras, o foco está em difundir o projeto de desenvolvimento “social-global e coletivo” que, podemos afirmar, Della Rosa já pensava desde 1934 no Uruguai e Argentina.

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Léo Alvarez Costet de Mascheville

Biografia

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Leo Costet de Mascheville (1901-1970) é filho de Albert Raymond de Mascheville (1872-1943), conhecido nos núcleos esotéricos martinistas europeus e latino-americanos como Cedaior. A família de Mascheville emigra da França para a capital argentina em 25 de fevereiro de 1910, pois o pai de Leo Costet, Albert de Mascheville (Cedaior), acreditava que a sua missão esotérica deveria ser continuada no “Novo Mundo” para uma “nova raça” que viria (CEDAIOR, 1919, p.4-7; IRIGOYEN, 2004, p.13-14).

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Após o cumprimento obrigatório do serviço militar na França, Leo Costet retorna ao Brasil, quando ele e a sua família, por intermédio de uma amiga, Ida Hoffman (discípula do tântrico esotérico Theodor Reuss), se instalam na cidade de Joinville/SC, no Brasil. Desse período em diante, por volta dos anos de 1925-1947, que Leo Costet desenvolverá intenso trabalho expansionista da doutrina martinista e da religião expectante de seu pai na América do Sul, predominantemente.

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Considerado o segundo patriarca da Igreja Expectante no Brasil, Léo Costet viaja a Argentina, Uruguai e Brasil, e em uma dessas viagens, como já adiantamos na subseção anterior, vem a conhecer o italiano Cesar Della Rosa (1901-1955), radicado na cidade de Montevideo/Uruguai. É neste período que o ioga é melhor estruturado nos trabalhos de Leo Costet, pois mesmo que nosso personagem tivesse conhecimento do ioga antes do seu encontro com Della Rosa, foi ao longo dos 6 anos em contato com ele, entre 1942-48, que o ioga foi sendo integrado com maior propriedade aos seus discursos. Atualmente, Leo Costet é considerado o fundador da escola Sarva Yoga (SEVANANDA, 1986).

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Após os anos de 1942-8, quando Leo Costet conviveu no Uruguai e Argentina com Della Rosa, parece ter havido uma “revelação”, como alguns discípulos de Costet se referem, que fez com que ele resolvesse largar tudo e viajar em missão expansionista da Igreja Expectante. Nosso personagem então sente um “chamado” e viaja pela América Latina para divulgar a Verdade de Jesus Cristo e Mahatma Gandhi, segundo ele mesmo a descreve em seu livro. Entre a sua peregrinação, a idealização e a instalação da sede da Igreja Expectante no Brasil, uma “tradição” de ioga surgirá dos estudos de Leo Costet: o Sarva Yoga.

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A escola de ioga de nosso personagem-chave, o Sarva Yoga, vai sendo estruturado por Leo Costet a partir de 1948 quando este rompe a parceria com Della Rosa. Os motivos do rompimento da parceria com dela Rosa e o GIDEE não é conhecido com certeza. Todavia, Leo Costet diz ter recebido de mestres ascencionados uma “missão”, que ele denominou de Cruzada Continental de Paz, por isso, conta-se sua biografia, da necessidade em abandonar tudo (os trabalhos com Della Rosa no Uruguai e Argentina, sobretudo a revista e os cursos de formação para novos professores de ioga) e seguir em peregrinação espiritual pela cidades do sul e sudeste do Brasil.

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Nos anos de 1960, após ter iniciado e influenciado diversos professores nativos de ioga sul-americanos, Leo Costet se muda para uma chácara na cidade brasileira de Betim/MG, aonde vem a falecer em 1970.

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Influências

A chegada de Leo Costet na América Latina acontece quando este tinha apenas 9 anos e, desde cedo, nosso personagem acreditava, por influência de seu pai, ser um dos responsáveis em disseminar os ideias messiânicos da chegada de uma “nova raça” entre os latino-americanos. Na orelha do livro em Leo Costet escreve sobre a vida e obra de seu pai, descreve, dentre outros fatos, curas milagrosas realizadas por seu pai como semelhantes ao do próprio Jesus Cristo:

O Mestre PHILIPPE, com os milagres que aqui se relatam e se EXPLICAM, inclusive ressurreição de mortos, devolução de faculdades perdidas e muitos outros, é nos revelado na obra como O MAIOR APÓS JESUS. E, muito embora o conteúdo do livro original Francês (nosso primeiro tomo, nesta edição) bastasse, com o rigor da verdade, para PROVAR tal afirmativa é, contudo uma felicidade para o public brasileiro que o segundo volume tenha sido escrito por Sri Sevânanda Swami, herdeiro direto da tradição de Papus e de PHILIPPE, como se relata na obra (SEVANANDA, 2007, p.3).

A Igreja Expectante, instituição religiosa criada pelo pai de Leo Costet, Cedaior, é inspirada por instruções espirituais de um suposto mestre e iogue indiano ao pai dele, no qual nosso personagem herda a influência e se incumbe da função em expandi-la na América Latina, com o intuito de anunciar a nova raça que chega, e óbvio, é o principal representante dela. E, mais uma vez, como na vida e obra dos personagens-chaves do proto-ioga latino-americano, é possível perceber a aproximação da proposta proto-ioguica de Leo Costet com as escrituras cristãs:

No aspecto doutrinário já está claro que Todos os Evangelhos são aceitos pela Igreja Expectante. Porém, na América Latina, por exemplo, seus rituais são sempre de base Cristã (essênia), por um lado, com complemento de base oriental, já que a vinda de Maitreya, próxima manifestação do Espírito Crístico para a era vindoura, já está conhecida e divulgada no Oriente desde muitos decênios, e no próprio Ocidente já é muito comentada.

As várias raças têm tido sucessivas Revelações, das quais cada uma tem gerado múltiplas religiões, como é o caso do Budismo, dividido em tantas seitas ou escolas, e com o Cristianismo, dividido em Catolicismo, Protestantismo, Ortodoxos e inúmeros Heterodoxos, perfeitamente cristãos também!

A posição ampla Expectante faz, portanto, desta Igreja, a Igreja de todas as religiões ou, melhor dito, de todos os cultos que compõem a Religião Universal (Id.).

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Leo Costet cresce, portanto, convivendo e absorvendo essa influência milenarista da religiosidade esotérica de seu pai sobre a América Latina. Todo o trabalho de Leo Costet com o proto-ioga que vem a desenvolver, sobretudo o poder terapêutico da imposição das mãos e da espera “astrológica” que anunciará o surgir de uma nova raça, vai ser embebido em seu sistema de crenças.

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Outra influência de Leo Costet, é o tutor espiritual de seu pai, Mestre Philippe de Lyon. A história conta que Mestre Philippe nascera na França e, desde criança, descreve o próprio Leo Costet, admirava à todos com os seus poderes de cura por imposição das mãos. M. Philippe, não por acaso, é apresentado por Leo Costet aos seus discípulos como um ser “extraordinário”, um “Realizado” e homem detentor de poderes transfisiológicos. Nosso “jovem” personagem associa M. Philippe como a própria reencarnação de Jesus Cristo – algo que ecoa por toda a sua vida. Jesus Cristo, inclusive, vai ser apresentado como a grande referência religiosa de Leo Costet e disseminada entre os herdeiros da sua organização, o Sarva Yoga.

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Na orelha do volume I do referido livro, Leo Costet novamente escreve sobre M.Philippe:

É de fato, não só proporciona ao leitor o mais direto, prático e transcendental dos ensinamentos com relação a “COMO CHEGAR A SER CRISTÃO”, senão que, também, descortina mistérios da corte, da política mundial e das ocultas influências que os místicos, tanto individualmente como por meio de certas ponderosas associações de INICIADOS (reais), dos quais muitos eram, também “reais” por ocuparem o trono dos Impérios ou Monarquias poderosos, têm tido em todos os tempos e lugares (SEVANANDA, 2007, p.3).

Outra narrativa em que Leo Costet se impressionava e, versava reiteradamente em suas publicações, era a especulação “científica” na época, do magnetismo animal de Franz Mesmer e do fluido ou “sopro” vital. Leo Costet chegou, inclusive, a compará-los com o conceito de prana do ioga. Ao longo de seus textos, por exemplo, busca justificar a ancestralidade da imposição das mãos como forma de cura em escrituras religiosas egípcias e cristãs: “Eu coloco as mãos sobre ti, Osíris, para teu bem e para te fazer viver” (SEVANANDA, 2007, p.14).

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A Igreja Expectante é uma nova religião de base messiânica criada pelo pai de Leo Costet ainda na França, mas que possui como fundamento o princípio terapêutico dos essênios, sobretudo os relacionados a cura pela imposição das mãos. E o seu grande intento, como instituição religiosa, reside ainda na espera – daí a derivação do nome “expectante” - dos novos avatares ou, como eles mesmo definem, da “nova raça” que nascerá em um continente que emergirá do Oceano Pacífico, próximo da América Latina (CEDAIOR, 1919, p.4-7). No momento mais maduro de sua vida, quando a sede da Igreja Expectante já havia sido inaugurada no Brasil e os novos discípulos chegavam para receber as suas instruções, o proto-ioga de Leo Costet vai conquistando contornos de uma prática religiosa corporal de cura/terapia mais definida.

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Veículos de Divulgação

Compreendo aqui dois grandes veículos de divulgação que Leo Costet desenvolverá: seus livros e a Igreja Expectante, que na sua sede do Rio Janeiro/Brasil, conta com ashram e um templo essênio de cura.

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Dentre as publicações de Leo Costet estão 3 volumes sobre o Mestre Philippe (SEVANANDA, 2007), além de uma autobiografia que conta a sua aventura do Uruguai até a fundação da Igreja Expectante no Rio de Janeiro/Brasil (SEVANANDA, 1986). De seus livros, estão a base doutrinária que, ainda hoje, serve de fundamento aos sacerdotes da sua instituição ioguica (Sarva Yoga) em vigor ainda (2018).

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O Sarva Yoga de Leo Costet, ao longo dos anos de 1949-60, ganhará corpo institucional congregando parte dos ensinamentos advindos da própria narrativa de uma “nova raça” que a religião Expectante sempre promulgou, mas sincretizado com elementos, como já elencamos em suas influências, das curas energéticas inspiradas pelas escrituras essênias, egípcias, mas “legitimadas” pela ciência, como o caso do Mesmerismo.

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Repercussões e Legado

É possível assim afirmar, que as narrativas curativas e terapêuticas que Leo Costet descreverá sobre seu pai e o mestre dele, o legitimarão como um “iniciado” no mesmo trabalho terapêutico espiritual que já começava a despontar no Ocidente, como a acupuntura e o Do-In. Seus últimos anos de vida, por exemplo, foram dedicados ao trabalho de imposição das mãos como método de cura, sobretudo na divulgação entre os seus discípulos da Igreja Expectante, na cidade de Resende, Rio de Janeiro/Brasil.

Há um fato, isto é, que na sua imensa maioria, os representantes da medicina oficial, da medicina clássica ainda chamada de “alopatia”, desconfiam tanto do magnetismo quanto dos magnetizadores ou outros “curandeiros”, mesmo quando estes não são chalatães. (SEVANANDA. 2007, p.20)

O curador digno deste nome seria um adjunto eventual no caso em que o médico, e só ele, julgasse útil completar a terapêutica clássica por outro procedimento e isto, sob a sua vigilância, sob o seu controle. (Id., p.27)

Resende é uma cidade encravada na Serra da Matiqueira, confluência de três estados brasileiros - São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais – com muitas cachoeiras, mata atlântica e base (desde 1940) da Academia Militar das Agulhas Negras, uma escola de ensino superior do Exército Brasileiro formadora de oficiais de carreira. A relevância deste dado histórico e geográfico reside no fato do ioga brasileiro ter sido bastante popularizado por dois militares e integrantes de ordens esotéricas europeias e influenciados diretamente pelos trabalhos terapêuticos desenvolvidos pelo Sarva Yoga de Leo Costet.

A sede da Igreja Expectante foi erigida naquela época com uma organização religiosa que continha já um ashram iogue, um mosteiro essênio e uma “sucessão apostólica” no intuito de expectar/esperar/aguardar a vinda de uma nova raça de humanos, conforme está descrito na revista editada por Leo Costet (Jehel) em 1945, Montevideo/Uruguai:

En verdad, asistimos a un espectáculo grandioso de la Naturaleza. Mientras por un lado hay el derrumbe de civilizaciones y pueblos y grandes modificaciones en la superficie terrestre, causando dichos movimientos sísmicos, un nuevo continente está surgiendo, cerca de nosotros, y los sufrimientos de todas las naciones traen a nuestras playas, familias del viejo continente.

A la raza que poblará el Continente Pacífico, Cedaior llamó por indicación de su Maestro—: Raza Olímpica, porque es “allí y en ella que reencarnarán todas las poderosas Entidades que formaron otrora los Olimpos de las varias Religiones del pasado”. En ella, que se llamará la Gran Raza, como el 6° será el Gran Continente, volverán todos los Maestros Adeptos. Apóstoles y Grandes Iniciados y esa raza representará una más elevada y bella expresión de la vida humana (LORELAIR, 1947, p.4).

A sede da Igreja Expectante com seu mosteiro essênio e ashram de ioga é, podemos afirmar, um dos primeiros experimentos de “escola de ioga” entre os latino-americanos com uma perspectiva bem aos moldes que conhecemos hoje, ou seja, que atende em aulas regulares a comunidade e não apenas aos “iniciados” – nosso próximo personagem-chave, Serge Raynaud, realiza algo bem parecido também na Venezuela. A perspectiva do proto-ioga desenvolvido por Leo Costet em Resende/RJ, possuía evidentes sincretismos com os ensinamentos de Jesus Cristo e voltado para a terapia espiritual e cura dos males do corpo físico, mental e espiritual.

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Durante esse período de sua idealização, construção e início das atividades da Igreja Expectante com essa estrutura sacerdotal e de atendimento ao público, Leo Costet realiza diversas palestras entre ordens esotéricas do Brasil sobre ioga. Em uma dessas apresentações, um general do exército brasileiro, o teosofista Gal. Caio Miranda (1909-1969), fica impressionado com as ideias ioguicas apresentadas por Leo Costet. Alguns mais tarde e de forma totalmente autodidata, Caio Miranda escreverá o primeiro livro brasileiro sobre o ioga, fazendo história como o precursor da espiritualidade no país e influenciando toda uma geração posterior.

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Esse discurso iogaterapêutico e da aproximação com os ideias de Jesus Cristo, são legados que, por exemplo, o Prof.Hermógenes, um dos iogues brasileiros mais carismáticos do Brasil, difundirá anos mais tarde conquistando espaços entre os católicos no Brasil.

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Serge Raynaud de la Ferrière

Serge Justinien Maria Raynaud (1916-1962) nasceu na França em 18 de janeiro de 1916 e, não se sabe porque adota mais tarde o sobrenome La Ferrière. Serge Raynaud se diz laureado por diversas titulações acadêmicas e iniciações esotéricas, cuja veracidade, nunca pode ser constatada (SIEGEL, 2014). Sabe-se com certeza que ele estudou e ficou conhecido como astrólogo em Paris e, segundo a sua esposa Louise, seu marido possuía com certeza era um “grande poder de síntese” (Id., p.284).

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A vontade de viajar para América do Sul ocorre anos antes de 1947 quando Serge Raynaud e esposa assistiam a um filme sobre o Peru. A ideia inicial era a capital peruana, mas acabaram se instalando em Caracas/Venezuela. A sua biografia conta que em seus estudos esotéricos e astrológicos adquire conhecimento sobre a possível segunda vinda de Jesus Cristo para o novo milênio (passagem da era astrológica de Peixes para a de Aquários). E, sozinho, chega a conclusão de que se tratava dele mesmo o novo messias, e o continente sul-americano seria o local na Terra desta Nova Era prosperar (GONZÁLEZ-REIMANN, 2014), muito parecido com a missão messiânica de Leo Costet. No final do ano de 1947 viaja com a esposa para Nova Iorque e de lá, após algumas semanas, chega na Guatemala para, definitivamente, se instalar na capital venezuelana. O seu intento estava em difundir a sua mensagem messiânica através da Grande Fraternidade Universal ou A Missão da Ordem de Aquarius, ordem esotérica que estabelece na cidade de Caracas/Venezuela.

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Serge Raynaud, em meados de 1949, viaja para Nova Iorque no intuito de proferir algumas palestras e depois seguir para a Índia. Nesta visita à Índia, segundo a sua instituição (Grande Fraternidade Universal), teria sido outorgado a Serge Raynaud o nome iniciático de Mahatma Chandra Bala por swamis (Sri Swami Guruji e Swami Navaratman). Raynaud inaugurará a primeira sede da sua ordem esotérica e um ashram (nome dado, comparativamente, a uma espécie de “Igreja do ioga”, assim com Leo Costet fez no Brasil) com aulas gratuitas, e David Ferriz Olivares, um dos discípulos de Serge Raynaud. Em 1958, funda uma outra sede da Grande Fraternidade Universal na capital colombiana; e a partir de 1956, nosso personagem-chave retorna à cidade de Nice/França onde vem a falecer em 1962, aos 46 anos.

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Influências

Segundo a esposa Louise, o contato de Serge Raynaud com o italiano Lanza del Vasto o influenciou muito. Lanza del Vasto é discípulo do líder religioso nacionalista indiano Mahatma Gandhi e Louise comenta em entrevista que, quando Serge Raynaud viu del Vasto com a sua capa voltando da Índia, disse imediatamente a si mesmo que “queria ser igual a ele!” (SIEGEL, 2014, p.278).

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Assim como Lanza del Vasto que, em 1948, propõe uma vida social alternativa com o que denominou de Comunidade da Arca em uma pequena cidade no sul da França, Serge Raynaud busca erigir um experimento social comunitário parecido com o intento de criar uma sociedade ideal de não-violência e autonomia política e social, mas na América Latina. Mas na biografia de Serge Raynaud, não foi somente a capa e os ideais de transformação social de Lanza del Vasto que impressionara tanto nosso personagem-chave. Outra inspiração para Serge Raynaud, segundo a sua biógrafa Pamela Siegel, proveio do encontro com o misterioso Sun Wung Kung (1875-1961) em Paris, em 1947, antes de viajar para a América Latina[4].

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Este encontro foi fundamental, porque Serge Raynaud interpretou as palavras do velho sábio: “você tem a marca” como se ele, a exemplo das narrativas messiânicas do “novo mundo” de Albert e Leo Costet de Mascheville e sua religião expectante, que ele, Serge Raynaud, seria um Avátar (SIEGEL, 2014, nota do prólogo com a escrita Soun-Woun-Koun).

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Outra figura europeia crucial na vida biográfica de nosso personagem, é o encontro de Serge Raynaud com o francês Constant Kerneiz (ou Félix Guyot). Seja que tenha ele ocorrido física ou simbolicamente, as narrativas de Raynaud inspiradas por Kerneiz introduz, sem dúvidas, o fascínio do ioga na vida de Serge Raynaud. Kerneiz (1880-1960), astrólogo francês e um dos pioneiros europeus no ensino do ioga naquele país, publica em 1936, Le hatha yoga ou I’art de vivre selon I’Inde mystérieuse. Neste ponto, a biografia de nossos personagens na contextualização do proto-ioga latino-americano se cruzam, pois Kerneiz possuiu dois grandes discípulos, Lucien Ferrer (1901-1964) e o italiano que já descrevemos em outra subseção, Cesar Della Rosa.

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Veículos de Divulgação

Entre os anos de 1956-1965, no qual Raynaud já retornara da Venezuela para a França, passa muitos anos escrevendo diversas cartas e livros para seus discípulos na América Latina, somando um total de 98 obras. Essas serão o seu único veículo de divulgação do ioga.

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Raynaud escreve, especificamente, um livro que divulga o que compreende por ioga com o título inusitado, Yug, Yoga, Yoghismo. Neste livro ele realiza uma verdadeira síntese dos ensinamentos de Patanjali e seu Yoga Sutras. Raynaud aqui faz uma crítica aos modelos de ioga da época e diz resumir todos com o nome Yoghismo. Yoghismo, é a visão de Raynaud do seu proto-ioga como uma espécie de religião perene, pois afirma que “não há religiões imutáveis (...) somente o YOGHISMO permanece IMPERTURBÁVEL através dos seus signos” (RAYNAUD, sem data, p.16)[5]. Raynaud considerava o ioga, assim, como uma religião distinta, como uma espécie de unificação de todas as outras; bem ao estilo Nova Era de todos os nossos personagens-chave até então.

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Raynaud também compreende as religiões tradicionais como decadentes (Id., p.14), mas para ele, o Yoghismo seria o meio de implantar e difundir as curas espirituais de Cristo por ele. Ele dedica neste livro uma boa parte da sua justificação pelo termo Yoghismo. Este neologismo do ioga, Raynaud criara para demonstrar que, mesmo o ioga de origem indiano, estava sendo dividido e formando várias seitas; e isso, segundo Raynaud, desunia e não promovia a união, que o próprio termo designava: “bhakti-yoga, jnana-yoga, laya-yoga, hatha-yoga e raja-yoga estariam sendo interpretadas de forma errônea” e formando um sectarismo, exatamente como ocorreu com as religiões tradicionais (RAYNAUD, sem data, p.27).

El YOGHISMO no tiene estas subdivisiones que ofrecen una pequeña mezcla agradable de confitería espiritual: el yoghismo es UNO y TODO, una SINTESIS, y no un desempacamiento de bultitos atados con etiquetas rotuladas como: “para personas intelectuales”, “para damas de afectos tardíos” o “para señores con curiosidad de novedades”!

El yoghismo no excluye nada: son las distintas experiencias que llevan al estudiante a los diversos estados requeridos para la Iluminación final (RAYNAUD, sem data, p.28).

Por isso a inclusão do “ismo” ao final do ioga, conclui, pois somente no Yoghismo proposto por ele, residiria a união novamente do ioga que estava sendo separado por uma má compreensão das suas escrituras.

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Serge Raynaud também realiza comparações em seu livro, não somente com a fisiologia biomédica, mas com escrituras religiosas. Ao longo do seu livro Yoghismo, nosso autor, reiteradamente, compara passagens dos sutras de Patanjali com versículos da Bíblia, Bhaghavad Gita e textos da maçonaria (RAYNAUD, sem data, p.31). Tal atitude não é de estranhar, haja vista que ele se percebe como o próprio Jesus Cristo na Terra. Dessa forma, nada mais “natural” que ele seja a “fusão” de todo o conhecimento das religiões que existem e existiram.

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Repercussões e Legado

O mais evidente no discurso de Raynaud sobre os efeitos do proto-ioga que institui está nos seus benefícios à saúde “comprovados” pela ciência. Fato este com bastante impacto na difusão do ioga latino-americano:

Poco a poco en el mundo occidental la medicina oficial reconoce el beneficio de las asanas y numerosas revistas médicas y órganos científicos han difundido publicaciones relacionadas con la Hatha-Yoga. (Id., p.43)

Los siete principales chakras son estos centros nervo-fluídicos, exactas reproducciones de los siete plexos bien conocidos de los ocultistas y son los efluvios sutiles de las 7 principales glándulas llamadas endocrinas.

Es evidente que en los casos neuropáticos las asanas tienen mejores efectos, así como para la curación del reumatismo, de la artritis y, todo lo que se relaciona con el gran simpático, aunque, en realidad, no hay límite en las posibilidades curativas de la yoga, ya que es en el sistema glandular completo en el que ejerce su acción. (Id., p.44)

Essa retórica em legitimar o ioga tanto na sua aproximação com o cristianismo quanto pela biomedicina convencional, no qual muitos indianos “renascentistas” também empregaram (SIMÕES, 2015a), é bastante utilizada por Raynaud. A sua proposta ioguica está em unificar os saberes científicos e religiosos. A herança iogaterapêutica do Yoghismo de Serge Raynaud com os ensinamentos cristãos e uma esperança de um “novo mundo”, novamente, será a tônica do ioga disseminado entre os latino-americanos. Muito similar ao messianismo do Sarva Yoga da Igreja Expectante de Leo Costet.

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Tanto o legado terapêutico do proto-ioga aqui descrito, quanto a retórica de se autodeclarar entre os “escolhidos” serão utilizados por iogues latino-americanos cinquenta anos mais tarde. Como exemplos podemos citar o iogue Prof. Hermógenes unificando os ensinamentos espíritas aos do ioga (HERMÓGENES, 2005); assim como Mestre DeRose que, igualmente a Costet e Raynaud, inaugura uma “tradição” de ioga por inspiração sobrenatural (SIMÕES, 2011; Id., 2015a). Outro modelo digno de menção é o do mexicano Jose Luis Pallaviccini Norori que, na capital mexicana em 1974, estabelece as bases do Centro Devanand de Meditação com distintos traços sincréticos cristãos, exatamente como nossos personagens mais de trinta anos antes o fizeram:

Cristo volverá para no irse nunca más ¡Cristo es un estado evolutivo que se alcanza cuando se Ilumina el quinto Chacra, un estado sublime de verdad, Amor, Armonía, Paz, nosotros en esta escuela y con la gracia de nuestro Amado Maestro, estamos en un estado más profundo.[6]

Serge Raynaud deixa de legado ao ioga latino-americano, sobretudo, a sua aproximação com a biomedicina, tradução das escrituras em sânscrito do ioga por nomenclaturas esotéricas, organizando, por exemplo, os chackras em correspondência com as glândulas endócrinas e elementos teosofistas, assim como toda uma geração posterior (ALTER, 2004, p.49, p.60-62; SINGLETON, 2010, p.29, p.32, p.50-52, p.149).

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Don Benjamin-Guzman Valenzuela

Biografia

Don Benjamim Guzman (1895-1984) é nosso único personagem-chave nativo da América Latina. Ele nasceu na cidade de Santigo/Chile e como integrante da teosofia, era encarregado de organizar a biblioteca da associação em sua cidade. Em meados de 1915 encontra um exemplar da revista teosófica The Theosophist aonde havia um artigo do swami Subramanyanda sobre a ordem ioguica e esotérica indiana Suddha Dharma Mandalam (SDM). Esses artigos que Sri Subramayananda passou a escrever desenvolviam a proposta em diferenciar os ensinamentos da Sociedade Teosófica do SDM e, dentre as informações contidas, há descrições ritualísticas que deveriam ser cumpridas, assim como certas restrições de cada grau de desenvolvimento espiritual dos discípulos:

Como já dissemos, apesar do treinamento basear-se inteiramente em Suddha Raja Yoga, é necessário observar certos ritos simples em determinadas ocasiões, na forma de oblações pelo fogo ou pela água. A quinzena que termina com a lua cheia de Vaishak (maio) é, por exemplo, um período de estrita observação de tais ritos. Escolheu-se particularmente esse período porque é no dia da lua cheia de maio que a Fraternidade Branca outorga bênçãos especiais ao mundo, por isso é esperado que os membros da Organização, nessa ocasião, façam preparativos e adotem atitude o mais receptiva possível, para que se habilitem a receber as bênçãos, tal como está escrito no seguinte verso, que se encontra no livro intitulado Anushtana Chandrika [Sanátama Dharma Dipika, uma das escrituras sagradas reveladas do SDM, citadas anteriormente][7].

Don Benjamin então escreve uma carta ao swami solicitando os primeiros saberes para ser aceito a ordem espiritual SDM. Depois de 6 meses recebe a resposta com indicações de livros e ritos específicos que deveria realizar como parte do início do seu treinamento espiritual. Ao longo de quase 10 anos (1915-1923) Don Benjamin vai sendo introduzido ao conhecimento ioguico diretamente de um líder indiano, caso único no contexto de como o ioga latino-americano. E somente em 1965, que Sri Janárdana, iogue indiano do SDM visita o Chile, Uruguai, Argentina e Brasil, abençoando discípulos e fundando ashrams na América Latina. Don Benjamin-Guzman vem a falecer em 1984, deixando em testamento todos os seus bens a organização SDM chilena.

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Influência

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A partir de informações colhidas entre os seus próprios discípulos - e verificadas por mim, sobretudo pelas cartas que trocou com iogues indianos - Don Benjamin recebe sua iniciação ioguica através do swami Subramanyanda da ordem ioguica SDM (JANARDANAM, 1936, p.335, p.337; DASA, 1995, p.10-16). Após esse período de extensas relações de instrução, o teósofo chileno Don Benjamin-Guzman foi auferido com o nome iniciático de Sri Vájra Yogui Dasa em 1923, e autorizado a fundar e disseminar os ensinamentos secretos da organização espiritual SDM pelos países latino-americanos.

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Na própria história de vida de Don Benjamin sabe-se que ele estudou em um colégio de católico e, segundo a sua biografia editada pela seção chilena do SDM, “se destaca desde jovem por sua inclinação a investigação religiosa. Como aluno de colégio católico conhecia os textos bíblicos, o catecismo, os escritos e a vida dos santos católicos” (VASA, 1995, p.10). Conta-se ainda que se envolveu com estudos sobre hipnose, espiritismo e teve “experiências extraordinárias em seu caminho como: a materialização de objetos e a cura de feridas” (Id.). Além disso, como não poderia de ser, o livreto biográfico encerra com uma pintura, realizada pelo próprio Don Benjamin, da imagem de Jesus “fruto de uma experiência espiritual” (Id., p.29).

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A influência católica do primeiro iogue latino-americano a ser outorgado representante de uma instituição indiana revela-se importante, pois transforma muitos dos signos de origem indiana do SDM com elementos cristãos. Como exemplo, podemos citar uma série de orações de inspiração católica que nosso personagem começou a escrever na interpretação do ioga que professa, como a intitulada Venga Tu Reino, escreve:

El Espíritu de Dios está siempre en todo el Universo, siendo este su Eterno Reino. Este Reino de Dios es la Suprema Consciencia de su Omnipotente Poder que se percebe del Yo Superior del ser humano. Sobre este particular disse Santa Teresa de Jesús (Las Moradas, Cap.4o. ) que esta presencia se manifesta como Poder, como un pilón o chorro de agua que surge o brota de lo recôndito del Alma y compenetra todo el cuerpo con su Gloria (DASA, 1995, p.21).

Neste trecho, o interessante é o sincretismo que o nosso iogue-líder chileno realiza com os elementos católicos, quando se utiliza, por exemplo, de figura de Santa Teresa de Jesus ou de Ávila, como símbolo da “manifestação do Poder” que o proto-ioga que desenvolveu por inspiração do SDM venha revelar. Esse tom católico permeará toda a vida de Don Benjamin e na maneira como os discípulos do SDM latino-americanos farão das escrituras tradicionais indianas.

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Veículos de Divulgação

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O principal veículo de divulgação de nosso personagem estão contidas nas suas interpretações escrituras secretas do SDM. Conta-se que a “Grande Hierarquia Branca do Himalaia” permitiu revelar esse conhecimento sagrado apenas em 1915 na Índia, após centenas de anos guardadas em uma “biblioteca oculta” - denominadas entre eles como Maha Guha. Há uma “coincidência” dos latino-americanos poderem - apenas oito anos após gerações – ter acesso a essas sagradas escrituras pelas mãos do chileno Don Benjamin de forma tão extraordinária (DASA, 1995, p.10-16). De certa forma, igualmente ao “chamado” de Leo Costet em semear a “nova raça” a partir da Igreja Expectante no Brasil, e o Yoghismo revelando a Serge Rayanaud na Venezuela, Don Benjamin foi o “escolhido” de uma instituição ioguica indiana em revelar os seus segredos no Chile.

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Mas, ao contrário do que ocorrera com argentinos, brasileiros, uruguaios e venezuelanos, que receberam suas iniciações de segunda mão, ou seja, por iogues não-indianos, o chileno Don Benjamin-Guzman foi o primeiro iogue latino-americano a conquistar os ensinamentos do ioga diretamente por um mestre indiano. Mas esse é um caso singular, pois toda a sua iniciação ocorreu sem a presença física de seu mestre, que se correspondia por meio de cartas escritas a próprio punho na Índia, entre os anos de 1915-1918 (SCHULZ, 2017). Podemos pensar que é um “novo modelo” de parampara (ensinamento mestre a discípulo) à moda latino-americana.

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Repercussões e Legado

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O ioga que Don Benjamin veicula foram sincretizados por ele pelos princípios esotéricos da teosofia, do ioga interpretado pelo SDM e os símbolos católicos que este chileno carrega culturalmente. Outro legado importante de Don Benjamin é o da disseminação da medicina ayurvédica, a medicina tradicional indiana. Ainda hoje, muitos centros de ensino e tratamento ayurvédico na América Latina possuem a sua base de formação no SDM.

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Mas o sincretismo católico que nosso personagem incrementa ao SDM vai ser tão intenso, que os ensinamentos de Jesus Cristo e de santos católicos que Don Benjamin realizou ainda podem ser compreendidos, para muitos discípulos do SDM latino-americanos, como revelações “autênticas” e de origem dos próprios iogues indianos.

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Conclusão

O ioga latino-americano passou por um processo de insulamento aproximado de 50 anos. Isso parece ter ocorrido por um afastamento natural - talvez devido a barreira idiomática (espanhol e português ao invés do inglês) - o que dificultou a vinda e permanência de gurus indianos e, consequentemente, no estabelecimento tardio de instituições ioguicas legitimamente indianas (SIMÕES, 2015a ; Id., 2015b)[8]. Mas esse fato não desautorizou um proto-ioga a disseminar-se; muito pelo contrário, produziu crenças, possibilitou mestres surgirem e escolas ioguicas sincretizarem-se por elementos religiosos nativos e católicos.

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Defendo que esse panorama histórico erigidos por Tingley, Della Rosa, Leo Costet, Serge Raynaud e Don Benjamin produziu “coincidências” encontradas contemporaneamente no campo sociorreligioso do ioga latino-americano, que listamos a seguir:

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1) Ioga nas escolas: Ioga como disciplina em escolas públicas e privadas, assim como o ganho de capital simbólico que algumas instituições educacionais adquirem quando incluem aulas de meditação (núcleo prático do ioga), foi introduzido, pela primeira vez, por Katherine Tingley ainda em 1900 na capital cubana. O modelo educacional do Raja Yoga em Cuba proposto por Tingley, pode ser compreendido como pré-estrutura que ecoa ainda hoje por muitos iogues, mesmo sem terem “consciência” do fato. É o caso do Centro de Estudos Yoga e Educação do iogue Maurício Salem:

O Centro de Estudos Yoga Educação tem por objetivo de estudar, pesquisar e desenvolver bases pedagógicas para o ensino ,em qualquer idade, de metodologias, de caminhos e práticas que conduzam o ser humano ao autoconhecimento. É uma pesquisa que envolve profissionais da área de Yoga e Meditação, pedagogia, psicologia , educação física, psicomotricidade e áreas de conhecimento relacionadas[9].

Podemos citar também a formação em professor de yoga em escolas ou Yoga para crianças promovido pela Federação de Yoga Argentina, sob supervisão da iogue Miriam Bieladinovich, diretora do Programa de Yoga nas escolas com o Ministério da Educação Argentina.

La quilmeña Miriam Bieladinovich expresó que existe “un convenio firmado con el Ministerio de Educación porteño y estamos trabajando hace 3 años en las escuelas públicas. Ahora queremos ir a la provincia de Buenos Aires y estamos por firmar un convenio”, añadiendo que “contrariamente a lo que podría pensarse, el proyecto apunta a las escuelas más vulnerables. Entendemos que el yoga tiene que estar en todas partes porque cada vez hay más gente que lo necesita y nosotros estamos preparados justamente para eso” [10]

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Em outras palavras, o modelo pedagógico que Tingley implementado por Tingley em 1900 em Cuba antecipa o “pioneirismo” destes projetos nas escolas.

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2) Ioga como terapêutica: No Brasil, por exemplo, o ioga e a meditação foi introduzido como prática não-convencional terapêutica em todos os postos de saúde do país pelo Sistema Único de Saúde há alguns anos atrás. Além disso, todos os grandes hospitais (mesmo os privados como o Albert Einstein em São Paulo) oferecem atualmente práticas de base do ioga como terapia integrativa e complementar.

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Na Índia durante a década de 1920, swami Kuvalayananda instituía também proposta idêntica quando inaugura seu ashram Kaivalyadhama, na cidade de Lonavla (SIMÕES, 2012; Id., 2015a). Quase neste mesmo período, entre os anos de 1930-40, Leo Costet e Serge Raynaud empreendiam estes mesmos projetos do ioga como possibilidade terapêutica espiritual no Uruguai, Argentina, Brasil e Venezuela.

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Podemos afirmar que Leo Costet e Serge Raynaud são, dentre os personagens desta pré-fase de transplantação do ioga latino-americano, os pioneiros no advento da medicina integrativa e complementar que virá a ser instituída décadas posteriores. A introdução de técnicas antes tidas como “curandeirismo” no seio das instituições médicas já são antecipadas nos trabalhos da Igreja Expectante em meados de 1947, por exemplo.

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Essas inciativas “novas” entre medicina alopática e o ioga, foram antecipadas suas bases, na América Latina, como vimos. Na capital cubana, o iogue Eduardo Pimentel, um dos fundadores da Associação Cubana de Yoga e membro da União Latino-Americana de Yoga, comenta em entrevista o público e foco das suas aulas:

People who suffer from obesity, different types of addictions, osteo-muscular pains, asthma, stress, insomnia, sexual dysfunctions, psychological conflicts (divorce, the loss of a loved one, communication issues with offspring), come to us and we help—through their own selves and potential—to find relief for many of their sufferings (La Habana.com, sem data).

No Brasil, o Prof.Hermógenes é uma referência do que ele mesmo denominou de Yogaterapia, mas o cubano Eduardo Pimentel também mantém essa verve de cura e o ioga. O trabalho de ambos, sempre foi pautado, desde o início dos anos de 1960, na relação da cura do “nervosismo” ou estresse pelo ioga.

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A adoção das práticas ioguicas (asanas, pranayamas. kriyas e meditação) no seio dos grandes centros médicos latino-americanos repousa em iniciativas de personagens como Leo Costet e Serge Raynaud, que já haviam percebido a dialética entre o ioga, doenças, relaxamento e a espiritualidade muito antes de centros de estudos internacionais Mind and Body existissem (ver BENSON, 2000). The relaxation Response. New York: Harpertorch), antecipando em décadas a medicina ocidental sendo repensada e confrontada frente as ditas “novas racionalidades médicas” (SIEGEL, 2010).

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3) Institucionalização do(s) Ioga(s): Organizações e as mais diversas escolas de ioga que assistimos hoje em dia (mesmo que sob a chancela de “tradição”) – das de origem indiana como o Vinyasa Yoga de Krishnamacharya ou o Kaivalyadhama do swami Kuvalayananda; ou mesmo as nascidas sabidamente em solo latino-americano como o Swásthya Yôga d’DeRose, Sattva Yoga de Gustavo Ponce ou o Método Restaurativo de Miila Derzett – podem ser considerados herdeiras de iniciativas de nossos personagens, como o Yoga Integral de Cesar Della Rosa, o Sarva Yoga de Leo Costet e o Yoghismo de Serge Raynaud.

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Della Rosa, especificamente, foi o mais preocupado na institucionalização do ioga e profissionalização dos professores de ioga que formava. Ele inaugura as Federações de Ioga na América Latina ainda na década de 1930, antecipando a Aliança de Yoga Norte-Americana, referência hoje, mas fundada apenas em 1997[11]. Cesar Della Rosa, parece lícito afirmar, pré-estruturou entre os latino-americanos a figura do “professor de ioga” como profissão, em cursos regulares para formação de novos professores de ioga. Foi, dessa forma, contemporâneo aos próprios iogues indianos, pois as duas primeiras instituições de ioga na Índia, foram fundadas por Yogendra e Kuvalayananda, respectivamente, em 1918 e 1924 (SIMÕES, 2011).

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4) Legitimação indiana: Todos os nossos personagens elencados de nossa pré-fase do ioga latino-americano se afirmavam autorizados por algum tipo de iniciação ioguica indiana; mas nenhum desenvolveu esse processo de forma tão “legítima” quanto Don Benjamin que fora iniciado, mesmo que por cartas, por uma ordem ioguica, o Suddha Dhrama Mandalam. Parece lícito afirmar que a busca por reconhecimento de uma tradição/instituição de ioga indiana entre os latino-americanos, sejam herdeiras deste chileno e todas as suas idiossincrasias.

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Don Benjamin, ainda nos primeiros anos de 1920, recebe a autorização por fundar uma sede em Santiago do Chile da primeira instituição ioguica indiana. Ele não apenas inaugura em décadas algo tão comum hoje (2018) que são representações oficiais de escolas de ioga na América Latina, mas inaugura os sincretismos do ioga com os signos católicos. Como exemplos podemos citar o iogue nicaraguense Jose Luis Pallaviccini Norori (ou Sri Ramesh). Este foi discípulo do iogue indiano Swami Saraswati Devanand Guru Ji Maharaj que, em 1970 chega a Managuá e funda a ordem do Centro Devanand de Meditação. Entretanto, mesmo autorizado por uma tradição ioguica indiana, Norori sincretiza o discurso hinduísta do seu mestre com distintos traços sincréticos cristãos, como podemos ler nos seus pronunciamentos:

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Cristo volverá para no irse nunca más ¡Cristo es un estado evolutivo que se alcanza cuando se Ilumina el quinto Chacra, un estado sublime de verdad, Amor, Armonía, Paz, nosotros en esta escuela y con la gracia de nuestro Amado Maestro, estamos en un estado más profundo.[12]

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Dentre outros, merece destaque o brasileiro Prof. Hermógenes que, mesmo discípulo do indiano Sai Baba, desenvolveu vasta literatura aproximando os ensinamentos cristãos com os do ioga. Hermógenes, por exemplo foi hábil em alinhavar os conceitos da teosofia com o ioga, budismo e cristianismo. Seus livros como Yoga caminho para Deus (1975), Superação (1975), Yoga, paz com a vida (1978), Convite a não-violência (1983), Deus investe em você (1985), O essencial da vida (1989) e Viver em Deus (1992), representam a tônica do sincretismo que queremos revelar como diretriz do ioga latino-americano em dialética com o pensamento cristão como veículo proselitista (SIMÕES, 2015a; Id., 2015b).

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Deste modo, o presente artigo buscou apresentar o marco-zero da transplantação religiosa do ioga aos países da América Latina na voz de cinco personagens que, apesar de “esquecidos” pela literatura acadêmica, suas realizações pioneiras ainda ecoam aos iogues contemporâneos em muitos aspectos.

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Notas

[1] Ver entrevista http://cubawellnessadventures.com/interview-with-eduardo-pimentel/, acessado em 31/05/2018 as 12:54h

[2] http://www.escuelainternacionaldeyoga.biz/fundador.html acessado 24/01/2018 as 13:21

[3] https://associationfrancaisedeyoga.wordpress.com/lassociation-francaise-de-yoga/ acessado 04/12/2017; e http://www.escuelainternacionaldeyoga.biz/pranachikitsa.html acessado 04/12/2017

[4] Além de Serge Raynaud, quem escreveu sobre o mestre Sun foi Serge Beucler, na revista Noveau-Planère, no. 23, de 1971, p.131. O artigo é intitulado “Sun, um maître errant”.

[5] No hay religión inmutable; en todas se han modificado sus dogmas primitivos; en todas se ha ido transformando una parte de sus enseñanzas. Solo el YOGHISMO permanece IMPERTURBABLE através de los siglos.

[6] http://elmaestrodelpresente.org/actual-guru-devanand-eloy/ acessado 05/01/2015. “Cristo voltará para nunca mais voltar. Cristo é um estado evolutivo alcançado quando se ilumina o quinto Chakra, um estado sublime de verdade, amor, harmonia, paz, nós, desta escola almejamos com a graça de nosso Amado Mestre de Luz, que está em um estado mais profundo.”

[7] Acessado <http://www.universidadedocoracao.com.br/index.php/rss-da-univerdade-do-coracao/item/148-uma-organizacao-esoterica-na-india-artigo-i> em 06/12/2017

[8] O ioga chega por volta de 1900 em países latino-americanos, mas o primeiro guru indiano a se instalar por aqui só ocorre em 1970 na Nicarágua enfrentando grande resistência de frentes católicas (SIMÕES, 2015b).

[9] Acessado <http://www.yogaeduc.com.br/>, em 26/01/2018 as 23:55h.

[10] Acessado <http://elsolnoticias.com.ar/implementacion-de-yoga-en-las-escuelas/>, em 26/01/2018 as 00:11h

[11] Acessado <https://www.yogaalliance.org/About_Us/Our_History> em 27/01/2018 as 01:27h

[12] Acessado <http://elmaestrodelpresente.org/actual-guru-devanand-eloy/> em 05/01/2015.


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