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Ao longo de alguns anos escrevendo, observando (e sendo observado) pelo (e no) campo yoguica latino-americano, percebo que o público mais próximo ao Yogar Contemporâneo, são professores e praticantes com diminuição da vontade de viver, mas que sentiram isso e buscam aqui seus desejos reavivados de alguma forma, pois (e isso é muito importante) deixaram de ignorar suas castrações e repressões impressas pelo campo espiritual (e comercial) do yogar atual.


Estes, me contam, que já sentiram muito tesão por yogar, mas devido a tantas frustrações e anseios - abuso de gurus, moralidade infligidas por escrituras e a repressão que igrejas, instituições e escolas/métodos yoguicos (aparelhos-de-captura libidinais), suas intenções tesudas perante a vida (o que realmente importa) deixaram de reverberar como prazerosas, podendo, muitos até, abandonarem a prática do Yoga. 


Eles se relembram o quanto era "bom" yogar amando a vida, mas o conflito (tensão) de se perceberem sendo obrigadas a se comportar tal ou qual, perdem o interesse. 


Alguns externam suas revoltas às torres de vigilância e punição a que foram submetidos por anos. Chegam até meus textos, cursos, áudios e vídeos se tocando que estavam sendo iludidas pelo Yoga, veja que contradição interessante. O mais comum, por um hábito construído de transferência psíquica, passam a imaginar que serei eu agora, o direcionador ao “caminho correto”. Não é fácil assumir a responsabilidade por um yogar singular e comunal.


Aos poucos, se restaurando das pequenas obsessões infantis a que foram submetidos (ou nunca superadas desde tenra idade, uma nova (e eterna) busca por quem DEVA os ORIENTAR. Aos poucos, ao longo das leituras que promovemos e dos cursos e material disponível, passam a reconhecer a potência das ALIANÇAS saudáveis em estar numa comunidade não-autoritária, e passam a retomar seus próprios processos criativos e a REATIVAR a pulsão de suas libidos enquanto Yogins Autênticos, ou seja, não dependentes de um PAI, MÃE-gurus e/ou de um SOCIAL-igreja, enfim, amadurecem.


Todo nosso esforço (com cursos, grupos de estudos, seminários, trabalho nas mídias sociais, podcasts) é voltar esse IMPULSAR pelo desejo-por-desejar; um retorno ao Yoga que faça sentido, pois VIVO, aquele Yogar sem a necessidade de conversão a uma igreja, guru ou escritura, por isso, abrindo FRESTAS


Assim, convoco um Yogar Feiticeiro mais do que o Yogar Religioso; invocando o Xamã para quebrar a demanda da ignorância, alienação (avidya) que o enreda a esquecer esse indivíduo que passou a negar a imanência e a desejar estar sozinho-no-mundo como meta do encontro com o seu "verdadeiro-Eu". É o oposto disso aqui, um Yogin que passe a desejar estar no mundo, imerso entre GENTES (e não fora).


Yogins distraídos vêm sendo enfeitiçados pela falta que o yogar moderno (azeitado no protestantismo calvinista e neoliberalismo Capital) vem construindo: pessoas desencantadas e tristes - desiludidas (sem nenhum MAYA) - que só passam a encontrar sentido quando submetidas a alguém ou um coletivo evangelizador.


O resultado? Ou mais yogins sedentários e conservadores, cegos pela ortodoxia - e que fique claro que não há nenhum problema em estar conversador, contanto que saiba conviver com as diferenças e não somente com as repetições.


Qual a saída? O humor, o lúdico como linha-de-fuga criadora, um Animismo Contemporâneo, oposto ao retorno idealizado de um passado idílico “antes da Queda” (Kali-yuga?), isto é, dominado pela subjetividade do transcendente e do Mito do Yogin Des-colado da Realidade, este sozinho numa caverna à espera de um milagre e do Messias para salvá-lo do apocalipse e o retorne à Luz


Ao invés disso, nos inspiramos pelo Espírito do Coletivo e do Yoga Ancestral que, imerso na imanência, nos ensina a conviver com humanos e não-humanos, transformando a realidade num processo infinito dialético, construindo futuros impossíveis.


Somos, assim, anunciadores do Yogados Nômades e Selvagens, estes yogins sem-linhagens (ou pós-linhagens), constituídos por todes os Yogados Utópicos, estes pouco midiáticos e cansados de Yogados Messiânicos.


Convido você a voltar a desejar yogar com (e por) mais tesão na vida.



Podemos pensar em 2 tipos de yogins, os que buscam moksa, nirvana ou a “iluminação”, e os que desejam o aumento de “potência”, de siddhis ou fusão com brahman.

Os primeiros - yogins e seus yogados metafísicos (ideais e universalistas) - se caracterizam por vidas sedentárias, aquelas entorno de uma comunidade moral, por isso mesmo, muito mais próximos do Yoga como religião. O Yoga para estes, orbita por filiações à líderes carismáticos, livros sagrados e ‘tradições espirituais comunais’. São, assim, imitadores e reprodutores de memórias e histórias do yoga em sua 'Época de Ouro' ou Satya-yuga. Operam em seus corpos, portanto, a paranoia de resgate de um passado idílico como uma espécie de messianismo yoguico.

Os segundos - yogins e seus yogados imanentes (reais e transversais) - possuem vidas nomádicas organizando-se em ‘comunidades guerreiras’; por isso, são yogados e yogins mais próximos da Magia em ‘Espiritualidades Anti-Plenitudes'. O yoga para estes orbitam por alianças laterais e seus devires; são, assim, yogins-xamãs ou feiticeiras que criam mundos em perspectivismo. Operam em seus corpos a esquizofrenia criativa de visita ao ancestral, mas atualizando-o no presente, pois enfrentando as contradições dessa transplantação, passam a inventar futuros impossíveis, abrindo oportunidades ao novo e à diferença.

Estes 2 tipos (yogin/yogado-paranoico e o esquizoyogin/yogado) sempre estiveram presentes na literatura e relatos históricos do yoga asiático. Um exemplo clássico é o Yoga-Sutras de Patanjali, que é uma sistematização do tipo 1 e descrição pejorativa dos yogins tipo 2. Entrementes, um ‘terceiro tipo’, ou talvez sub-espécie do segundo, surge na contemporaneidade a partir de duas linhas-de-fuga: do yogin carismático, aquele que detém os meios e modos de produção simbólica e material do Yoga; e o yogin “livre”, que só dispõe de seu corpo como força-de-trabalho ao recém mercado terapêutico espiritual moderno. Ambos, servem à Grande Indústria do Bem-Estar Mundial como seus especialistas de autoajuda, ao lado do coaching's, cerimonialistas de beberagens psicodélicas e os sacerdotes-cientistas da nova-era.

Tenho comigo que os yogins-feiticistas ou sidhantas, aqueles que objetivam siddhis (e não moksa ou a “iluminação”) formariam os yogados da nova geração ainda por vir. Afirmo isso, pois poucos são os que, contemporaneamente, desejam filiar-se (conscientemente) a um igrejamento yoguico, nem tampouco, se tornar discípule de algum guru carismático como em outros tempos. Além disso, o que observo, é hoje os aspectos feiticistas do yoga retomando seus espaços novamente, mas com novas gramáticas. Por exemplo, raros os que discursam praticar/ensinar Yoga para ascensão de kundalini que deverá perfurar os ‘nós’ dos chackras na fusão das forças lunares e solares (ou Shiva/Shakti). Nada disso, hoje, ouvimos sobre meditar/yogar para mobilizar as “energias” da Serotonina, Dopamina, Melatonina e de alguns neurônios que ‘habitam’ em partes específicas do encéfalo; ou ainda, para arrefecer as ações ‘demoníacas’ do Cortisol que ‘vive’ nas Suprarrenais promovendo a fúria do Estresse, esse espírito obsessor e agitador de almas/mentes distraídas. Há, portanto, uma continuação da milenar mitológica yoguica e sua inconstante mutação, sorvendo a realidade à sua volta como um bricoleur que sempre foram.


Nunca houve (ou haverá) um yoga maior e outro menor


Compreendamos que não há yogins asiáticos percorrendo as ruas pichadas de Osasco ou Medellin como se estivessem em Varanasi, Rishikesh ou Rajastão pré-modernas. A realidade, da imensa maioria, são Yogins Livres cansades de tentar servir a Yogins Déspotas (ou carismáticos) em troca da Bem-Aventurança que nunca chega. Já há uma clara percepção - do fim do feitiço/fetiche ou maya - da dívida infinita em que se meteram por quase um século de serviços devocionais - seja a um guru, um livro, uma igreja ou à Indústria do Bem-Estar - decidem, uma vez mais na história do Yoga, abrir uma nova linha-de-fuga e retomar o processo criativo dos yogados xamâmicos que sempre estiveram presentes entre as epistemologas espirituais do Sul.


Foto do escritorPhD. Roberto Simões

Todo {maya} é a feitiço que des(IN)forma - elimina toda formação que vem de dentro. Estes enfeitiçados (ou desinformados) são {avidyanos}, aqueles desatentos e viventes de um sistema feiticista sem feiticeiros - o capitalismo. Todos aqui {enfetichizados} pela moeda, são povos da mercadoria, dedicam suas tristes vidas ao culto do capital e idolatram acumuladores de coisas ou símbolos. Yogin-autêntico é um mandingueiro, mas também existe o yogin-capturado que vive da reprodução. Enquanto aquele liberta corpos enfeitiçados, portanto, dóceis e domesticados; este aprisiona corpos, renovando fetiches|feitiços, assim, orbitando uma comunidade moral.


Yogar, portanto, são atos mágicos {desavidyanizadores}. Essa prática ritual magista desfaz encantamentos, mas não para desencantar mundos, mas abrir novos e outres portais de acesso a mundos ainda não visitados por corpos divididos por raças, castas, classes, gêneros, karmas, etc. Como retomar o processo criativo da própria vida (desenfeitiçar-se) sem decair num novo maya|feitiço, e pior, acreditar que des-cobriu um mundo desencantado e perder o {sankalpa| propósito} da vida como Schopenhauer?


A resposta é inventando e|ou visitando novas e outras estéticas da existência, em suma, se transformando num yogin-mandingueiro, aquele mago à espreita (ou pleno), portanto, em nomadismo. Este yogin-mandingueiro é pleno e IN-conFormado, sempre sendo. É uma contradição o que se (a)FIRMA aqui, na palavra e gesto, apenas aos enfeitiçados, pois captutados pelo símbolo mágico da metafísica, buscam alcançar ideais. Não são nômades, mas peregrinos que nunca chegarão a Compostela. Ficarão indo e vindo entre os diversos caminhos que dizem levar a Espanha, mas se perderão, pois não as "setas amarelas" não existem e se comportarão como o mestre dos magos e a unicórnio da Caverna do Dragão.


Os yogins sacerdotes, os "guardiões da tradição" são feiticeires também, mas capturados (ou convertidos) a um modo de existir que creem (ou fingem acreditar) ser perenes, são assim, magos enfeitiçados. Todes os feiticeires são aqueles que transitam por entre mayas ou mundos mágicos; são demiurgos, seres-entre. Ser xamã não significa ser um santo, e todo santo é parte humano.


Atualmente vivemos sob um sistema altamente feiticista, mas sem feiticeiros. Estão todes encantados pelo capital e os que ousam quebrar essa demanda capitalista são desacreditados, queimados, cancelados, possuem "poucos likes e seguidores" (o grande legitimador de realismo).



Eu agora estou enfeitiçando seu corpo agora, pois toda palavra é mágica. Estou mantrando no seu ouvido, abrindo novas cartografias experimentais de esquecimento e dissolução do seu eu-social. Com o poder mágico das palavras bem dis-postas visando in-dispor um jeito, talvez, im-posto (mayatico, portanto, mágico) de vida que, mesmo que não seja potente|alegrador, se apresenta única, "é assim que é", e não tem outro jeito de estar.


Você está enfeitiçado e eu despachando quebra de demanda aos seus olhos. São gestos mágicos que realizo agora, numa plataforma (mídia social?) que, em geral, é usada para captura, mas aqui a utilizo para lhe re-capturar de volta a vida pulsante da imanência. Estamos aqui, juntes, em pleno processo de voo xamânico para fora do seu cotidiano que lhe enreda a outro. O meu não é menos enfeitiçado do que o seu, é só outra estética, uma nova cartografia possível. Ao final dessa leitura|voo xamã você vai retornar, mas, se minha contra-feitiçaria política produzir o efeito desejado em desfazimento da demanda imposta ao seu corpo, meu serviço mágico foi um sucesso. Você vai sair dessa experiência mais provisório e menos definitivo. Ter dúvidas é uma benção. Sinta-se abençoado!


Todo yogar-autêntico opera no desfazer do sentido imediato do mundo, essa ordem social vigente, que lhe mantém preso na casa-grande da verdade, enquanto é nas senzalas, quilombos, entre os beiradeiros e povos da floresta que vivem os yogins-feiticeires trabalhando incessantemente na quebra-de-demanda dos encantos que desencantam tantas outras formas (e forças| desejos) de existência. Yogin é tode aquele que apreendeu mundos diferentes e sabe negociar com|entre eles. Às vezes inventa um para si, mas com o cuidado|prudência de não acreditar ser o Último; por isso, são, em essência, como Skanda, guerreires contra o Estado, dançando como Shiva-Durga e abrindo novos caminhos, como Ganesha e seu machado de Xangô.


Nunca se esqueça que Purusa é só um espelho, não há nada atrás dele, a não ser teias de aranha e pó. Como espelho, Purusa reflete mundos inventados por corpos em relação, corpos se tocam, se esfregam, produzindo calor e fogo (tapas). Toda prática de yoga é alimento de fogo mágico na criação de mayas; por isso, é sempre uma dança à beira do precipício os yogamentos da vida vivida, pois se pode facilmente cair nas facilidades metafísicas representativas idealizadas e hermenêuticas ocultistas do que "se está por trás". O contra-feitiço a isso opera no despacho da experimentação e dos esquecimentos.


Oxalá samadhis lhe façam incorporar corpos sem órgãos que lhe desorganizem e a super lucidez vivekissima invente jnanas impossíveis e o colem de novo a realidade é o afaste do pleno, do vazio e demais estruturas estruturantes de vidas que nunca serão.



Seja Bem-Vinde

Você adentrou um espaço em desconstrução. Desacreditamos metafísicas, por isso bricoleurs ou feiticeiros do Yoga quebrando a demanda de todo maya que lhe enfeitiça. Mas entenda, tudo é maya.

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