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Dr.Roberto Simões

Vive-se em uma sociedade hoje que transforma qualquer coisa em mercadoria, desde objetos, pessoas, afetos e, também, a religiosidade do Yoga. "Transformar algo em mercadoria é realçar o seu valor-de-troca em detrimento de seu valor-de-uso".

Assim, o Yoga está valendo mais pelo seu valor-de-troca do que pelo seu valor-de-uso. Me explico melhor: ninguém mais quer dedicar o seu tempo na "produção" da sua religiosidade. Isso gera dúvidas, angústias, frustrações... tempo. Muitos preferem obtê-la pronta das mãos de seus especialistas. Dessa forma, "surgem grupos e pessoas que se dedicam exclusivamente à tarefa produtiva da religião (do Yoga que você consome). A religião se torna um produto de especialistas por conta da divisão social do trabalho e o produto religioso passa a ser monopólio desses especialistas".

O Yoga visto como mercadoria, "visa a atender não apenas os interesses dos consumidores, mas também o de seus produtores", e consequentemente, a determinadas posições sociais. E, como toda a mercadoria consumida nas sociedades atuais, "o ato de consumir passa a ser designativo de posição de classe. Cidadão é o sujeito que consome e a posição de classe é reconhecida pela quantidade consumida, mas também e principalmente, pelo tipo de coisa consumida".

Como não produzimos a nossa religiosidade, passamos a posição de ávidos consumidores da religiosidade alheia, mas também ansiosos por consumir o Yoga das classes sociais mais abastadas: queremos praticar no tapetinho da nike, participar de cursos dos "yogues" mais populares, ler os livros de Yoga mais "modenos", enquanto que o velho kaivalya (liberdade) é jogado nas mãos de outros. E o pior, estes criticam alguns que buscam a sua própria trilha apontando o dedos para as falhas (segundo ele) do outro.

"Na sociedade de consumo nossa liberdade está limitada à escolha do que podemos ou não consumir. Pode-se escolher o filme que se quer assistir, o sabor da pizza ou o modelo do carro e a maioria das pessoas se dá por satisfeita com isso. A felicidade (seja lá o que signifique) custa pouco, na verdade. Ela é a maldição dos homens.

Mas a liberdade custa caro. Implica em disciplina e vigilância e não está ao alcance de todos. Segundo nossos mitos fundantes é contra os deuses que lutamos para arrancar-lhes a nossa liberdade. Foi assim com Eva, foi assim com Prometeu, é assim com todos os homens e mulheres que entre a felicidade ou a liberdade escolheram a segunda opção".

Adaptado do texto "O desejo, a religião e a felicidade" no prelo do Prof.Dr.Edin Edin Sued Abumanssur.

Atualizado: 30 de jul. de 2022


Amigos professores de Yoga, não tenham apego aos seus alunos e nem se cobrem tanto. Ajudamos algumas almas a conhecerem e vivenciarem uma espiritualidade de matriz indiana, para que um dia eles pratiquem sozinhos, sem a nossa voz, o nosso jeito, os nossos mantras, os nossos hábitos. E iniciem a sua própria jornada, encontrem o seu verdadeiro dharma, e nós continuemos com o nosso: propagar a cultura yoguica para outras seres de forma desapegada, sem aversão a ninguém, com consciência da nossa identidade e sem medo da vida e da morte.

Esse apego aos alunos, pode nos conduzir à "adaptar" a qualquer custo ao que acreditamos que eles mais "apreciem" ouvir, e mantenham-se fiéis até a morte a nós (e continuem, logicamente, matriculados e "em dia" com vossas mensalidades e nossos bolsos). Essa desesperada "adaptação a qualquer custo" pode nos conduzir, em algum momento, a trocar (ficamos cegos, na verdade) a espiritualidade do Yoga para uma cientificidade exagerada que só percebe os benefícios à saúde orgânica, nível de condicionamento cardiorrespiratório e secreção de alguns hormônios e neurotransmissores que a vida de Yoga proporciona.

Constantemente ouço dizer e leio também em revistas e "recepções" de academias que o Yoga acalma! Quem faz isso é rivotril e outros ansiolíticos e antidepressivos! O Yoga incomoda, estimula e nos faz pensar, repensar, refletir, entrar em "parafuso" e rever os nossos comportamentos, sentimentos e (pré)conceitos. Não é fácil praticar Yoga, requer tempo (para muita gente, grana), esforço (tapas), auto-estudo constante (svadhyaya) e entrega total (isvarapranidhana). Dessa forma, professores não tenham medo de divulgar a filosofia e a religiosidade do Yoga, acreditem e tenham fé que VAI DAR CERTO.

O Yoga possui 5 mil anos e continua sendo "testado" pelos mais importantes laboratórios do mundo, a vida; e você talvez tenha algumas décadas apenas de prática, e os seus alunos alguns anos(?), ou seja, vai dar tempo, não se apressem... Alguns alunos vão sair, outros vão chegar, alguns retornarão. Não nos apavoremos em adequar sempre, pois poderemos correr o sério risco de nos perdermos e vivermos uma enorme EGOTRIP, andando com roupas de cor açafrão, rostos pintados, títulos de nobreza na frente dos nossos nomes e forçados a andar calmamente e falar de-va-gar SEMPRE (muito mais tamas do que sattva), enquanto, muitas vezes, o mundo exija ação, só para "parecermos" yogues para os outros. Hey brother, wake up!

Atualizado: 30 de jul. de 2022


Quais são os valores do Yoga?

Os Yamas e os Niyamas: a prática da não-violência, não faltar com a verdade, buscar viver sem se apropriar de algo que não seja seu e de forma não possessiva, manter-se atento a sua sexualidade. Manter o seu corpo e ambiente em que vive limpo, contentar-se com tudo com que a vida lhe ofereça, manter hábitos corretos com a alimentação, o sono, o trabalho, o lazer e a prática física, auto-estudo constante para avaliar os seus progressos e fracassos, e a entrega da sua vida à Deus.

Quais são as crenças do Yoga?

A teoria dos Klesas nos explicam: o sofrimento humano vem da sua ignorância em não se perceber livre. A ignorância vem do "turbilhão da nossa consciência" (vrittis), sendo a mãe de 4 emoções nefastas, o apego, a aversão, o orgulho (ou a falsa identidade de si-mesmo) e o medo da morte (e da vida); que no que lhe concerne, alimentam (os klesas) ainda mais os vrittis! Se torna um círculo vicioso.

Como sair deste ciclo de sofrimento?

Com a prática do Asthanga Yoga preconizado por Patanjali, que não é a escola de Hatha-Yoga de Krishnamacarya, é uma filosofia ou um projeto de vida, na verdade, é a alma da espiritualidade yoguica.

Em que consiste o Asthanga Yoga?

Basicamente, um caminho espiritual composto por 8 passos: a vida vivida sob os valores do Yoga (yamas e niyamas) são os 2 primeiros passos. Depois vem os ásanas, os pranayamas, a parte "prática" do Yoga, que na Id.Média sob outras influências incluíram os kriyas, as limpezas orgânicas e sutis do Yoga. Ai vem o próximo passo, prathyahara, um estado de consciência aonde os estímulos sensoriais externos nos afetam de forma ímpar, ou seja, não nos abalamos mais tanto com o burburinho do mundo. Depois a prática meditativa: dharana e dhyana, estados em que há cada vez menos "objetos" transitando em nossa consciência. E, por último, o chamado samadhi, uma experiência espiritual que nos integra de forma mais sutil com o objeto de meditação e com o nosso próprio ser.

E aí acabou?

Não, ai começa. Até agora foi somente uma trilha. Em samadhi, temos a possibilidade de experimentar e vivenciar um tipo de sabedoria com maior discernimento, chamado de viveka. Em viveka, as nossas decisões são mais assertivas e em comunhão. Numa comparação, talvez não muito feliz, e até provocativa, seria quando um neo-pentecostal nos diz que foi "tocado pelo espírito santo" ou "pela Palavra do Senhor". A cada samadhi e viveka vivido vamos nos aproximando mais e mais de Deus e de nós mesmos, até experienciarmos kaivalya ou liberdade, o objetivo último preconizado pela proposta soteriológica do Yoga. Após ter atingido kaivalya, os kriyas, ásanas, pranayamas, prathyaharas, dharanas, dhyanas e samadhis não tem mais sentido, pois você já está livre e não precisa de mais nenhum subterfúgio ou "técnica espiritual".

Seja Bem-Vinde

Você adentrou um espaço em desconstrução. Desacreditamos metafísicas, por isso bricoleurs ou feiticeiros do Yoga quebrando a demanda de todo maya que lhe enfeitiça. Mas entenda, tudo é maya.

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