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Foto do escritorPhD. Roberto Simões

Yogis-Cientistas ou Cientistas-Monges


Introdução

O ioga moderno se vê envolto em uma posição identitária paradoxal e de difícil compreensão tanto aos acadêmicos que investigam os aspectos biológicos ou sociais de seus ritos e escrituras, quanto a seus próprios atores sociais (leigos, mestres ou simples praticantes). Especificamente me refiro as suas relações com a real disposição como fenômeno social contemporâneo. Me explico melhor: o ioga se confunde atualmente entre uma denominação espiritual vinculada aos valores religiosos hinduístas, e uma técnica laica de desenvolvimento comportamental, físico e terapêutico, vinculada aos saberes da Ciência (SIMÕES, 2011).

O que demonstrarei neste pequeno ensaio será uma possível chave interpretativa do ioga moderno que, ao invés de buscar defini-lo excluindo uma ou outra classificação, as une numa única perspectiva a partir dos conceitos de Campo, Habitus, Capital de poder e Sistema simbólico da sociologia de Bourdieu. Não fuja se você não for da área, encare, vai dar certo. Te conduzirei pela mão.

O fenômeno social ioga pode ser avistado como uma estrutura estruturante gerido por um corpo de especialistas que atuam em seu próprio campo espiritual. Este campo atua aonde a cura do estresse é a moeda de disputa (capital simbólico) atualmente. Dessa forma, a questão do ioga ser uma prática espiritual, terapêutica ou de condicionamento físico perde sua relevância, pois todas essas classificações estarão em disputa no mesmo microuniverso mascarando uma luta (nem sempre) velada entre seus agentes.

Ioga, ciência e Nova Era

Em complexas sociedades modernas, a secularização e a privatização religiosa autorizaram novas expressões espirituais ingressarem na disputa pela hegemonia com antigos fenômenos religiosos dominantes (BOURDIEU, 2011, p.79-98). Com isso, práticas rituais antes incorporadas exclusivamente no seio de religiões já institucionalizadas, foram transplantadas do Oriente para o Ocidente à convite do movimento Nova Era como terapêuticas espirituais (CHAMPION, 1989). Foi assim que o ioga, a partir do seu vínculo com o Hinduísmo, é transplantado para nossa cultura (MALUF, 2005).

As principais características da espiritualidade Nova Era estão em sua obsessão pela cura, no flerte com a Ciência, no caráter errante e de bricolagem de seus agentes; mas sobretudo, por se desenvolverem com mais propriedade no meio urbano das grandes cidades de economia neoliberal (AMARAL, 2000). Só no Brasil por exemplo, são mais de 14 milhões de indivíduos - cerca de 7% da população - que se declaram seguir denominações religiosas de matiz oriental de acordo com o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) de 2010; e dentre estas, não seria surpresa (se o recenseador incluísse a opção) observar uma parcela significativa adotando o ioga entre seu sistema de crenças. O ioga por aqui vem incorporando elementos religiosos daimistas, umbandistas, espíritas e cristãos e ganhando adeptos, além de multiplicar o seu número de cursos de formação das mais diversas escolas e tradições. Ao mesmo tempo, observamos um crescente de publicações de artigos, livros, dvd’s e sites associando as práticas ioguicas com a remissão das mais diversas doenças.

Em outro estudo investiguei o quanto das escrituras ioguicas antigas foram sendo ressignificadas modernamente no seu contato com a Ciência, em específico a fisiologia. Desse flerte revelamos ao mesmo tempo iogues que se auto-afirmam seculares e desencantados, convivendo com outros mais espiritualizados e tradicionalistas (SIMÕES, 2011). Ao final do meu mestrado ainda em 2011 me interrogava como o ioga, mesmo assistindo a ciência biomédica profanar as suas práticas rituais em técnicas terapêuticas laicas de cura, conseguia ainda sustentar-se como caminho espiritual para muitos.

O que nos propomos a seguir será descrever a dialética que se estabelece entre ioga-biomedicina que, ao invés de desencantar o ioga, tem se comportado como legitimador de seu novo sistema de crenças. Em palavras mais simples, ao invés dos textos sagrados indianos, são os artigos científicos em biologia que autenticam a "veracidade" do ioga contemporaneamente.

O ioga e sua proposta clássica de Libertação espiritual

O ioga clássico se propõe em libertar espiritualmente o seu adepto das agruras da vida através de um caminho religioso óctuplo ou asthanga ioga (AI). O AI foi descrito no Ioga Sutras (IS) - texto sagrado aos iogues e concebido na Índia bramânica pelo iogue Patanjali alguns séculos antes e depois da era cristã - que nos apresenta a teoria dos klesas como o seu núcleo. Os klesas entendem os comportamentos de ignorância, apego, aversão, medo da morte e orgulho como obstáculos espirituais, pois serão eles os responsáveis em produzir os vrttis ou “agitação da consciência” (citta-vrttis). A Libertação da alma ioguica surgiria a partir da atenuação de citta-vrttis culminando na experiência mística do samadhi ou de comunhão com Deus (GULMINI, 2002, p.262-273; SIMÕES, 2011).

Revelamos portanto, três conceitos fundamentais à proposta clássica de libertação do ioga: os klesas, os vrttis e o samadhi. Ao contrário, os iogues e praticantes modernos parecem manifestar maior interesse na aquisição de saúde e bem-estar, do que reverenciar algum tipo específico de ética religiosa ou conduta comportamental de culto à Deus (Energia, Eu Maior, Vida Plena, Culto a Alta Performance, enfim, só se alteram as palavras, mas o conceito é o mesmo: ser mais do que se é, pois se está insatisfeito consigo mesmo) (ALTER, 2004; BAIER, 2012). Em outras palavras, minimizar os efeitos deletérios do estresse e promover o aumento dos níveis gerais de condicionamento físico e mental parecem ser a tônica do ioga praticado atualmente.

Discussão acadêmica contemporânea sobre o fenômeno ioga

Estudos revelam que as diferenças que caracterizam a passagem do ioga clássico para o moderno estão na sua medicalização e, por conseguinte, na popularização (e transformação) dos seus ritos corporais em técnicas terapêuticas e corroboradas pela ciência biomédica ocidental (ALTER, 2004; DE MICHELIS, 2008, p.23-27; LIBERMAN, 2008, p.100-116). Mesmo assim, ambivalentemente, o ioga continua a manter ainda latente a sua verve espiritual de sentido de vida e proposta de libertação religiosa.

Em uma pesquisa realizada em 2002 com 750 praticantes de ioga, revelou que 80% deles compreendem as suas práticas como auxiliares no combate o estresse, e 83% que as mesmas os permitem gozar de uma vida espiritual plena (NEWCOMBE, 2005). A investigação descreve apenas uma das denominações modernas do ioga (Iyengar ioga), mas o seu líder constitui um dos mais conhecidos mestres iogues do mundo e o seu pensamento pode representar a articulação ioga-biomedicina que buscamos revelar. Segundo Iyengar, “a pessoa indisciplinada é alguém sem religião; a pessoa disciplinada é religiosa; a saúde é religião; a doença é falta de religião” (IYENGAR, 2001, p.38). Na antropologia, pesquisas mostram ser possível estabelecer uma conexão entre doença-sagrado, medicina-religião e cura-libertação espiritual (LAPLATINE, 2011, p.213-252).

A cientista Sarah Strauss corrobora nos esclarecendo que a doença para o ioga contemporâneo não corresponde a um simples mecanismo resultante da fisiologia orgânica, mas surge da experiência subjetiva de um sentir-se mal, quase como uma angústia ou uma dor incorporada (STRAUSS, 2008). No entanto, os conceitos ocidentais de doença, dor, sofrimento e estresse podem se manifestar diferentemente dentro do pensamento indiano.

Segundo Rao, as noções de klesa (ou obstáculos espirituais, como vimos) e dukha (lit.dor, sofrimento) são os representantes mais próximos para o conceito de estresse dentro da espiritualidade contemporânea do ioga. O autor nos esclarece que klesa poderia corresponder ao agente estressor ou estresse propriamente dito, e dukha a experiência dolorosa (dor incorporada, angústia) advinda de klesa (ou estresse). O Asthanga Ioga (aquele de Patajanli e não de Jois), por sua vez, seriam as técnicas desenvolvidas pela doutrina clássica do ioga em dominar o estresse/klesa (RAO, 2012).

Bem, vamos lá! A partir dos dados obtidos de nossa discussão até agora, podemos deduzir 4 características do ioga contemporâneo que dialogam entre si dando coerência ao seu pensamento moderno:

1) a permanência no ioga da crença em energias sutis/esotéricas, sobretudo prana e chackras (SAMUEL & JOHNSTON, 2013);

2) a influência da biomedicina na interpretação de seus ritos e doutrinas (ALTER, 2004, p.73-108);

3) o relaxamento como “produto” principal (e esperado como condição sine qua non) dos ritos ioguicos (SINGLETON, 2008, p.77-99; Id., 2010); e

4) o processo de curar a si mesmo e aos outros é incorporado (FULLER, 2008, p.131-151).

Todas essas características se tornaram o que Bourdieu considerava como habitus (BOURDIEU, 2011) de um iogue; ou seja, é de tal maneira incorporado na dia-a-dia ioguico que os seus agentes (leigos e especialistas religiosos do ioga) consideram como da “natureza do ioga” sua existência.

Iogues-sacerdotes versus iogues-profetas

A secularização da Índia se iniciou com a colonização britânica ainda no início do século XX. Esse processo permitiu que a sociedade indiana – fortemente arregimentada pela moral hinduísta – se percebesse subjugada como “primitiva” e “mágica” aos olhos ocidentais dos protestantes calvinistas anglicanos. Com a secularização, um movimento conhecido como “Renascença Indiana” autorizou alguns iogues indianos a privatizarem sua religiosidade almejando elevar a legitimidade de sua cultura, reformando o ioga com elementos sincréticos do cristianismo, mas também da mentalidade científica ocidental (SIMÕES, 2011). Assim, o ioga clássico – antes pautado pela base moral hinduísta - reforma de seus sistemas de crenças convidado pela cultura ocidental.

A aproximação Ioga-Ciência surtirá uma aproximação entre esses dois sistemas simbólicos de explicação do mundo, culminando na ressignificação das escrituras tradicionais do ioga e no surgir do que podemos intitular de Ioga Moderno. Essa reforma na doutrina clássica do ioga aproximou-o da biomedicina ocidental, como explicamos. Atualmente o ioga está incorporado em muitos centros médicos de excelência, como o Sistema Único de Saúde (SUS) e Hospital Albert Einstein no Brasil por exemplo. Essa aproximação ioga-biomedicina autorizou toda uma geração de iogues a “inculcar” conceitos biomédicos em sua proposta de libertação espiritual, relacionando klesas, AI e samadhi, ao lado de relaxamento, hipometabolismo, hormônios, epigenética e neurotransmissores.

Esses modernos iogues desafiarão tradicionais sadhus, brâmanes e mestres iogues retirados nas florestas e ashrams a repensarem suas escrituras clássicas ao lado do pensamento empirista e materialista da Ciência, e com isso, rompem com uma milenar linhagem sacerdotal, instituindo as suas próprias interpretações místicas do ioga. Como consequência, arquitetam as suas próprias “tradições”.

A sociedade indiana, que assistiu por gerações o sistema de castas manter os sacerdotes iogues no topo de sua pirâmide social, modernamente, testemunham sinais evidentes de ruptura desse sistema. Em outras palavras, a hegemonia do poder simbólico nas mãos, por séculos, de iogues-sacerdotes tradicionalistas percebe-se demovida por um novo poder simbólico que principia ser preenchido por uma classe de especialistas religiosos que podemos denominar de "iogues-profetas inovadores". Estes surgem “anunciando” um novo sistema simbólico ioguico, agora mesclado com a Ciência e não mais pelas escrituras tradicionais, como o vedanta e o IS por exemplo.

A hegemonia do poder dos "iogues tradicionalistas" foi então abalada por leigos praticantes e iogues “sem-tradição”. O ioga moderno, praticado sobretudo por ocidentais que desconhecem a “legitimidade” dos iogues-sacerdotes tradicionalistas, adotam as crenças dos iogues-profetas inovadores. Os iogues-profetas são uma geração moderna de iogues que hibridam a espiritualidade do ioga clássico com todo e qualquer elemento contemporâneo que fazem sentido a eles espiritualmente: seja a Ayahuasca do Santo Daime ao discurso de Chico Xavier. Esse fato, além de incentivar a disseminação dos valores ioguicos aos leigos ocidentais, acentua a luta entre iogues sacerdotes "tradicionalistas" e os iogues profetas "hibridistas" na disputa do campo espiritual ioguico moderno. E qual o moeda de disputa? O novo capital simbólico do ioga é o combate ao estresse.

O ioga como novo fenômeno religioso de cura

A compreensão sobre o ioga moderno aqui discutida só pode ser completa a partir dos conceitos de campo e disputa pela hegemonia de capital simbólico de Bourdieu (BOURDIEU, 2011, p.27-78). Segundo Bourdieu, a noção de campo espiritual seria o local aonde o seu capital tem sentido de disputa apenas entre os agentes do campo que disputam a hegemonia dos bens de libertação espirituais específicos que oferecem.

“(...) diferentes instâncias religiosas, indivíduos ou instituições, podem lançar mão do capital religioso na concorrência pelo monopólio de gestão dos bens de salvação e do exercício legítimo do poder religioso enquanto poder de modificar em bases duradouras as representações e as práticas dos leigos, inculcando-lhes um habitus religioso, princípio gerador de todos os pensamentos, percepções e ações, segundo as normas de uma representação religiosa do mundo natural e sobrenatural, ou seja, objetivamente ajustados aos princípios de uma visão política do mundo social.” (BOURDIEU, 2011, p.57)

Aplicando esses conceitos (campo e capital simbólico religioso) ao universo do ioga discutido até agora, como um sistema simbólico produzido e gerido por seu corpo de especialistas modernos, poderemos compreender alguns fatores que envolvem as disputas pela hegemonia do seu poder de cura do estresse como capital simbólico. Dessa forma, a Ciência dentro desse panorama, não pode ser configurada como “desencantadora”, mas fomentadora do sistema de crenças recém reformado do ioga moderno (ALTER, 2004).

Desde 1920 iogues estão sendo submetidos aos mais complexos e precisos exames laboratoriais no intuito de detectar suas repercussões orgânicas e psíquicas e aplicá-las de forma laica para o tratamento e prevenção das mas diversas doenças. Ao longo, portanto, de mais de 80 anos descobriu-se que “cientificamente” a prática regular do ioga (e seu ritual mais conhecido, a meditação), possui poder “relaxante”, portanto, de combate curativo ao estresse crônico, grande mal que acomete os indivíduos que vivem nas megalópoles do mundo. O ioga moderno incorporaram muito desses resultados biomédicos em sua doutrina e transformaram a sua proposta de eliminação dos comportamentos dos klesas para o das manifestações do estresse na mente e no corpo.

A relação ciência biomédica e prática ioguica produziram a crença que o ioga moderno possui o “poder invisível” (BOURDIEU, 2001, p.113-190) de cura do estresse e todos os males derivados deste como doença. Dessa transposição – iogues-sacerdotes tradicionalistas versus iogues-profetas híbridos - promove uma reforma da doutrina do ioga. Essa reforma estabeleceu:

1) um novo campo espiritual de disputa entre os iogues, abandonando os valores do hinduísmo em detrimento aos da Ciência biomédica;

2) troca do capital simbólico de disputa dos klesas para combate ao estresse; e

3) das forças de disputa entre “sacerdotes” e “profetas” no ioga, houve a produção de novos bens de libertação espirituais como o relaxamento (agora com o caráter de espiritual), e do samadhi (ou de integração com Deus) como uma busca correspondente por uma espécie de “homeostase eterna”, um estado da alma aonde o "estresse/klesa" não consegue mais exercer sua ação nefasta.

Será então agora o estresse - e não exclusivamente os comportamentos nefastos dos klesas - que produzirão os vrttis.

A crença biomédica de um ioga laico

A ciência, por outro lado, também não se viu livre das influências que o ioga exerceu em seus membros. Dito de outra forma, os cientistas foram incapazes de pesquisar os efeitos fisiológicos das práticas ioguicas isolando o seu sistema de crenças, pois:

1) os voluntários convocados para as pesquisas em meditação e ioga são, invariavelmente, simpatizantes dos valores ioguicos;

2) mesmo que, pretensamente, tente se aplicar (como alguns dizer conseguir) a prática ritual ioguica de forma laica, o conteúdo simbólico do ioga (como a produção da “calma” e do “relaxamento” pela meditação e demais práticas físicas ioguicas) já estão impregnadas pela cultura ocidental – leia-se sistema simbólico ocidental (é só folhear revistas populares que trazem na capa o ioga como o mais eficaz tratamento anti-estresse). Além disso, não se possui mecanismos científicos de separação de tais dados (o quanto a crença do ioga influi ou não nos resultados fisiológicos dos voluntários), mas tornou-se “consenso” o seu contrário;

3) outro fato, associado ao item 1, é que muitos cientistas que investigam fisiologicamente as práticas ioguicas como a meditação, se tornam “afetados” por ela (seja de forma positiva quanto negativa - ver essa relação “afetada” em cientistas como Herbet Benson, Amit Goswami, Fritjof Capra e Allan Watts);

4) o conteúdo simbólico produzido pelos rituais contemplativos do ioga, mais a aculturação “espiritual” do ioga trazido pelo contato com os ideias nova eristas, podem invocar respostas fisiológicas emocionais específicas que se repetirão em cada experimento. Em outras palavras, nenhuma resposta fisiológica registrada em uma pesquisa com práticas rituais religiosas aplicadas de forma laica pela ciência biomédica, conseguiria isolar de forma incólume aos conteúdos simbólicos dos seus voluntários, pois todos estão imersos no mesmo sistema de crenças do ioga. E os que pretensamente não estejam, se tornarão ao serem treinados nas “técnicas ioguicas”, adquirindo o habitus dos iogues.

O que levanto neste ensaio nos serve apenas para ilustrar que o flerte da ciência biomédica com o sistema de crenças do ioga moderno adquiriu o tal “poder invisível” que Bourdieu menciona (BOURDIEU, 1989, p.7-8). Este "poder invisível" é o que mantém uma certa “naturalização” (ou “consenso”) entre todos os membros pertencentes do campo espiritual ioguico produzido por seu próprio corpo de especialistas. Sim, defendo que os cientistas pesquisadores das técnicas ioguicas também atuam como agentes espirituais ioguicos, mesmo que inconscientes. Algo semelhante ao que Bourdieu levantou em seu artigo "Sociólogos da crença e crenças dos sociólogos", mas relacionado aqui à biomedicina, neurociência e toda rede de biólogos que investigam as práticas rituais espirituais do ioga (BOURDIEU, 2011, p.108-113).

Conclusão

Esse novo sistema simbólico erigido modernamente é a resposta de parte da classe média-alta dos grandes centros urbanos do mundo que percebem como negativa a forma econômica-política capitalista de consumo, maior volume de trabalho (fruto da vida de consumo), e geradora de doenças atreladas ao estresse cotidiano, mas que não conseguem ser amenizadas apenas pelo modelo alopático de saúde adotado pelo ocidente. Assim, o ioga surge como uma nova religião de cura (em andamento) e com seu próprio subcampo religioso e especialistas que disputam entre si (e mantém o campo religioso ioguico ativo) novos bens de salvação criados e sustentados por eles em parceria com a ciência biomédica ocidental.

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