Entenda isso, você não É nada, mas ESTÁ sendo. Está tudo em movimento. E onde movimenta? Em corpos. A mente também se desloca, mas isso vem depois do corpo. Quem é o motriz de suas ideias, pensamentos (adequados ou inadequados), paixões, sentimentos? Em uma palavra: seu corpo em relação.
O corpo se desloca por desejos, ou vontades se preferir. Se melhor lhe aprouver, associe a desejos e vontades como animas ou fruições prânicas - é que, mesmo prana, é só mais um conceito inventado pela mente. E, mais uma vez, que é só mais uma ideia do corpo. Toda a corporalidade que nos move produz afectos, e estes afectam outros corpos, num circuito rizomático de afecções.
Somos corpos afectando e sendo afectados o tempo todo
É uma caosmose ordenada pela mente, mas que apreende o mundo pelo contato com outros, são os corpos. São eles produzindo afecções, que gestam pensamentos, num ciclo permanente de repetições e diferenças. Tornei-me redundante aqui só para você não desincorporar e assumir, novamente, sua simples-mente, forma-corpo, de novo. Fica assim, tá? Incorporado.
Puxa teu santo para terra, ou melhor, para o seu cavalo
E firmeza, firmeza no amor, firmeza na força
Mas quem organiza esses corpos para sentir e perceber? Sociedades. Elas estão de 3 formas:
Sociedades primitivas. Elas possuem esse nome não, pois, menores cognitivos e epistemologicamente, mas porque vieram na frente, são primeiras - marcam os corpos de seus indivíduos pela Terra, ou seja, eles animam a Natureza. Nossos corpos são naturais, portanto, da Natureza, assim animados pela Terra (e não por outros mundos, tipo Céu Cristão, Nosso Lar ou qualquer outro tipo de abstração, ou delírio transcendente). Nossos corpos como partes da Natureza. Seus deuses são deste mundo e não de outro. Em suma, toda a cultura selvagem dos "marcados pela Terra", têm seus indivíduos codificados pela imanência. Por isso, eles valorizam o corpo e não a mente.
Sociedades despóticas. Elas desanimaram a Natureza, portanto, seus corpos (desnaturalizados), direcionam seus desejos (ou que os animavam antes para à Terra) para fora da Natureza, assim, algo sobrenatural ou metafísico precisa nascer para organizar o mundo, e passam a cultuar deuses extra-terrestres, sem corpos de nossa Natureza, assim, se tornam desnaturados. A cultura e a ordem do mundo (e de seus corpos) são transcendentais. Por isso, eles valorizam mais a mente (ou outras invenções extracorpóreas) mais do que o corpo, que para eles, é a sede do irracional, das paixões, em suma, das ideias inadequadas.
Sociedades civilizadas. É a nossa sociedade, aquelas desaminadas com à Terra e assassina dos deuses despóticos extra-terrestres (ou transcendentes). Animam-se pelo Capital. Seus templos não estão mais na Natureza e, toda aquela cartografia metafísica que sustentava as divindades despóticas com suas castas, classes e racialidades, desapropriada e capturada. Todos os desejos canalizam estes corpos axiomatizados para o acúmulo de capital (simbólico, como likes, comendas e followers; ou em mercadorias). Seus xamãs se dedicam com afinco a enfeitiçar produtos e seus templos são os shoppings, distribuídos em inúmeras seitas e cultos: Zara, Gucci, Amazon, Patanjali Ayurved, Yoga Journal e outros.
Essas três organizações sociais são grandes aparelhos capturadores e organizadores de corpos e mentes; e estão operando agora. Um yogin indiano da ordem religiosa aghori pode estar mais próximo dos afectos de um pajé ianomâmi, do que outro indiano sacerdote brâmane, com afecções muito mais próximas a de um rabino do que um babalorixá, por exemplo.
Entrementes, um pastor neopentecostal e homem de negócios, como Silas Malafaia, onde a moral oscila por jogo políticos e ações de investimento, seus afectos estão mais próximos de yogins, igualmente businessman's, como Sadhguru (a favor da lei de cidadania que, se aprovada por levar mais 3,9 milhões de indianos na ilegalidade), Yogi Adityanath (Governador de Uttar Pradesh e divulgador da ideia que o Yoga é, exclusivamente, hinduísta) e Baba Ramdev (que afirma conseguir "curar" a homossexualidade pelo Yoga). Todos aqui, chauvinistas (entusiasmo excessivo pelo que é nacional e menosprezo sistemático pelo que é estrangeiro, minoritário, o outre diferente dele) e colados no soft power religioso de políticos de extrema-direita como Jair Bolsonaro e Narendra Modi.
Qual a saída você me pergunta ansiosa por mais um método, curso, treino, clínica, retiro, yoga camp, tradição certa, guru de verdade e qualquer solução que se compra por dinheiro ou devoção religiosa.
Eu preciso lhe decepcionar aqui para destruir em você qualquer ânsia pelo desafecto. A saída é a viver.
Exemplos como dos trabalhos de Marta Xavier e suas colegas no PerifaYoga/BA, Malu Damião/MG, Nina Sá/BSB, Anderson Martins/TO, Tainá Antônio/RJ, Miila Derzett e Paulo Vasconcellos/SC e há outres yogins anônimos que trabalham na linha de resistência que caracteriza a tradição yoguica nômade e selvagem dos corpos primitivos, marcados pela Terra e crentes da Natureza. Eles estão aí, mas são inacabados, incompletos, pois sabem que se deixarem cristalizar, morrem para à terra, deixando-se capturar pela metafísica, desincorporados e desnaturados, sucumbem ao capital e/ou ao despotismo.
Mais simples, todes yogins autênticos, são a favor do plural e sem retóricas de aniquilação (e medo|ódio) pequeno-fascista, se metamorfoseiam e ajudam outres yogins a se incorporarem (mais do que empoderarem) para estarem perigosos, e não serem um perigo a tudo o que é novo, estranho e diferente.
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