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E agora, Jocasta?

IMPLICAÇÕES EDIPIANAS AO CULTO DIONÍSICO PROIBIDO



É como se fossem duas pessoas 

aprendendo uma língua. 

A diferença é que é a mesma, 

na bem da verdade, 

acho que somos muitos. 

(Freud, 2015, O Pequeno Hans, p.142)



Introdução

Nascemos descolados de corpo e cultura. Mas não é possível se tornar humano assim, por isso a necessidade de criar rostidades, de um aparente "Eu-imutável" ou in-divíduo para alguns e inconstante selvagem para outros de povos contra-o-Estado permanente. Destarte, seja qual for a contexto sociocultural e político, no sentimos dois, um "corpo-Natural" e uma "alma/mente/Eu-Cultural". O Natural aqui como selvagem, indócil, um "Isso desejante descontrolado" que necessita de outro "Algo" organizante de seus impulsos


Está inscrito em nós, colonizados por eurocristãos, a ideia que, liberto das Leis - como expôs Hobbes, em Leviatã - será "uma guerra de todos contra todos": o Caos, signo mítico dionísico-shiva-exú. Mesmo que, consciente e "racionalmente", se argumente contra, cremos na direção "evolutiva" a um processo inexorável de uma certa civilidade


Vamos nos deslocando por um circuito de afectos bem reduzido contemporaneamente: o medo e a esperança em sociedades do cansaço. O medo de um Mal que pode nos arrastar a qualquer momento para Hades; e a esperança de um Bem que virá nos arrebatar para o Olimpo. O complexo de Édipo, cerne do processo psicanalítico, constitui uma estética da existência. É preciso de num eterno estar à espreita de como somos estruturados psicossomática e socialmente, para não cair na moral inebriante do certo e o errado, o bem e o mal, como o jovem rei Penteu em Tebas - avô de Lábdaco, ambos despedaçados pelas bacantes dionísicas. Há uma construção social da realidade subjetiva, mas também da corporalidade desejante (Safatle, 2015), pois aqueles que negam suas pulsões orgiásticas, sofrem consequências da repressiva dionísica.


(...) o medo como afeto político central é indissociável da compreensão do indivíduo, com seus sistemas de interesses e suas fronteiras a serem continuamente defendidas, como fundamento para os processos de reconhecimento (Id., p.9). 

Tudo se inicia aí, no complexo de Édipo e sua herança familiar anti-bacanal, essa antessala da angústia frente ao desamparo que todos nós enfrentamos em relação ao tesão por nossas Mães proibido. Será sempre o feminino/Mãe forjando a erogenidade que insistem em nos frustrar, enquanto o masculino/Pai, nos castrar. 


Iniciamos aí uma dura e feroz travessia de ambivalência internalizada: até quanto posso ou não sentir a mim em relação aos outros Corpos-Eu's que me habitam?. Serão aqueles, em nossas fantasias e realidades, os responsáveis por nos afastar de tudo o que desejamos? É por causa Dele que Ela não pode (ou quer) ficar comigo! Meus pais são sádicos e perversos comigo? Só pode ser isso!


Essa triangulação edipiana angustiante no faz perceber, aos poucos (se tudo der “certo”, for suficientemente bom), que somos um imenso e infinito Vazio desejante, e aí, a liberdade que tanto nos amedronta se instala soberana e assustadora. É uma contradição que não podemos suportar, pois resistir a realidade e lutar contra Isso, é tanta realidade que é preciso inventar ficções que me curem deles em mim. Mas como criar jeitos novos de existir, recalcando tudo o que desejamos, e ainda ser aceito pelo Pai/A Lei enquanto, no Real, desejamos matá-lo para transar com nossas Mães, e vivermos felizes para sempre


Me pergunto agora: será que pensei isso em voz alta? Culpa/medo e a esperança de ninguém ler meus pensamentos, me fecho (recluso), óbvio, afinal não sou louco! - penso sozinho para logo esquecer (Násio, 2007, p.61). Posso confessar meus anseios e expectativas aos padres, feiticeiras e psicanalistas, dizem por aí.


Essa atitude ambivalente, até mesmo incoerente da criança, vai instalar-se duradouramente na personalidade do sujeito como um modelo de todas as atitudes que ele adotará, adulto, diante daqueles que despertarem nele o desejo de possuir o outro, ser possuído por ele ou destruí-lo (id.).  


É justamente aí, nesta cartografia lisa do Vazio que somos, onde precisaremos nos submeter voluntariamente a quem nos vigiará e punirá de todo e qualquer desvio da Lei que nos castra. Então, toda travessia psicanalítica ou rumo a certa maturidade psicossocial, passa, necessariamente, por nos afirmar em desamparo como linha-de-fuga a uma servidão voluntária (Násio, 2007, p.61; Costa, 2010, p.16; Safatle, 2015).


Você sabe com quem está falando?

No desamparo, sem expectativa, o que nos move é o Desejo sem falta (mas como produção), caso oposto, é à Demanda, essa deusa da falta que precisarei me sacrificar em direção ao Sujeito que devo estar; isto é, o que devo fazer enquanto aguardo desejar o desejo-do-Outro? Mentir sobre mim mesmo, que será reprimido e me assombrará até eu ter resolvido o que fazer com tudo isso, quem sabe o que farei?


Todo neurótico age por demandas, afinal, o que outro vai achar o que eu sou? Será que vai me amar tanto quanto a minha Mãe? Agir por demandas é o próprio agir narcísico, nos relembra o pequeno Hans, esse "pervertidinho", como brincava o próprio Freud. Mas quando ajo pelo meu desejo, devo me responsabilizar por ele e não pelo o que o Outro (esse demônio-rei Penteu que me assombra) entende que eu precise desejar. Cria-se em mim (nós, edipianos) aquela angústia inicial que se repete, repete e repete até se diferenciar. Quem tem coragem em infringir A Lei/Pai por movimentos desejantes singulares? Culpa, medo e esperança de "não cair em tentação" - e fazemos o sinal de cruz em respeito ao Filho-Deus-Pai.


Não sei por quê, mas é isso que eu quero, mas posso desejar? Será que tem alguém vendo e vigiando meus pensamentos? Desejo e Demanda nos movem diferentemente.

Quer se trate da aflição do abandono, da humilhação por maus-tratos ou da sufocação ligada à sedução, estamos sempre na presença da angústia de castração sob a forma mais mórbida, que confina com um terror de castração. Diremos, portanto, que a fobia, a obsessão e a histeria são os diferentes modos de retorno do Édipo traumático à idade adulta (Násio, 2007, p.62).  


Primeiro éramos o Todo, meu corpo despedaçado foi se juntando nas conexões erógenas experimentadas pelos estímulos maternos; como não desejar viver assim a vida toda? Porque alguém, em "sã consciência" me privaria desse gozo? Justo o meu Pai? 

É que os vínculos sociais, para serem estabelecidos, exigem esse primeiro sacrifício. A experiência de um afundamento em mim, necessita um investimento libidinal no Eu que ainda sequer existe na Real. Entendemos, aos poucos, que há infinitos outros Corpos-Eu-sendo na medida exata da morte de "sentimentos oceânicos", quando emergimos da Terceira Margem do Rio Materno. É muita angústia, por isso inventamos vértices da realidade (ou Perspectivismos) próprios, para nos reconhecer como um Eu-finito que anseia imortalidades.


Todo projeto de vida é aquele que conseguimos suportar; assim, a insatisfação dos bem-sucedidos é pior do que a de todos os frustrados mal-encaixados. Sendo Eu um nada, carregamos conosco o potencial de ser qualquer coisa; mas o mundo em que crescemos já nos chega prontamente inacabado e recheado por regras de convívio já muito bem estabelecidas; não há muita margem para disputar novas perspectivas e cartografias existenciais. É preciso passar pelo segundo sacrifício, resistir ao mergulho narcísico suicidário embebido apenas de Si-mesmo. Como introjetar as "regras do jogo social" e ainda assim, elaborar estratégias de uma vida libidinal singular? Somos uma intrincada construção social da realidade eternamente sendo num começo-meio-começo, como diria Nêgo Bispo (DOS SANTOS, 2015). 


Ha algo em mim que é indeterminado e continua florescendo. Serão anos de aprendizagem no cuidado de si para (se conseguirmos), enfim, nos reconduzir ao rizoma de indeterminação do que conseguiremos ser do que a vida fez de nós.


Quando o Édipo transa com Jocasta?

Letreiros iniciais desconexos que variam entre linhas horizontais e verticais, é tudo simétrico, organizado, mas ainda assim as letras não se encaixam, se distorcem no primeiro momento. A trama inicia no deserto do Arizona - o Grande Sertão: Veredas deles, com Riobaldo e Diadorim, essa ambivalência que nos confunde tanto: afinal, podemos nos apaixonar por esse homem tão materno? 


A primeira cena mostra uma cidade plana, plena e delimitada pelas montanhas no fundo; tudo muito bem organizado, mas a trilha musical de suspense se mantém, anunciando uma tensão assustadora: algo não “bate” muito bem. Cidade vazia, sem ninguém passando ou carro virando, prédio branco e inóspito, limpo, um profundo nada. Tudo, ao mesmo tempo, fascinante e aterrorizante. Ele precisa, antes, pagar as dívidas do pai para assumir a relação com ela. A câmera fecha numa mosca na comida que ela nem tocou, me lembra Kafka (Hitchcock, 1997). É assim que se abre a história de um homem que não aprendeu a construir Eu, e se transformou em psicótico.


Ele é casado ainda, portanto, um homem com três mulheres (esposa, amante e a Mãe), mas se insinua (num chiste) à irmã dela: É tão bonita quanto você?, pergunta. Gostaria de conhecê-la (ri), quem sabe as duas filhas não puxaram a Mãe, pensa inconsciente. A amiga dela toma calmantes que roubou da própria mãe, e oferece a ela: Quer um? A personagem recusa, mas se conhecesse bem a sua própria história a se desenrolar, levaria uma ou dois comprimidos para depois do jantar no Bates Motel, sem dúvidas (Id.).


Um senhor mais velho olha para ela se insinuando: Você se parece com a minha filha, exclama. Na sequência, se lamenta porque a garotinha-do-papai vai se casar em breve e irá se afastar dele. Ele mesmo entrega nas mãos dela, uma grande soma em dinheiro vivo - como se fosse seu próprio falo. Horas depois a personagem dela estará fugindo para entregar o falo/dinheiro-vivo para o seu amante; já que, como adiantamos, o filhinho-da-mamãe, com as suas três amantes, só poderá assumi-la quando pagar as dívidas que herdou do Pai (Id.; Amaral, 2004). 


Ela deseja muito transferir o falo/cash do homem maduro (que já matou a sua mãe, ela imagina) para o seu homem-menino-da-mamãe, deste modo, enfim, matar seu pai, desistir da mãe e da esposa, e se casar com ela - que não vê a hora de ter um falo só para si (Hitchcock, 1997).


O Sacrifício pelo social e nascimento de um Eu

Toda neurose, deste modo, é um desajuste (uma resistência, uma afronta) A LEI (Pai). Eu resisto a me (con)formar com o que todos desejam (ou exigem) de mim, para que eu seja aceito como “indivíduo social” - um modelo ou ideal de Corpo-Eu. Por outro lado, o que serei sem as Leis, sem um Eu, sem meu Pai/Falo? Se eu o matar, minha mãe se suicida e sofrerei; afinal, se todos seguirem seus próprios desejos, não seremos mais um grupo social coeso, não é assim que nos ensinaram?


A depressão, por sua vez, parece um desajuste consigo mesmo (esse Eu), um cansaço, desânimo com o Si-mesmo construído socialmente - foi isso o aconteceu quando transei com a minha mãe, lembra? Caio no precipício que todos nós dançamos inebriados num culto orgiástico ao lado de Shiva, Dionísio e Exu - o avô de Édipo sabe bem o que acontece quando se proíbe o culto a esses deuses do tesão/Desejo como produção.


(...) o Édipo é, portanto, o processo que atua na estruturação de toda a organização psíquica e, nesse sentido, as estruturas clínicas – neurose, perversão e psicose – devem ser consideradas observando-se as relações triangulares de amor, desejo e gozo aí produzidas. Dito de outra maneira, castração e Édipo articulam-se como modos de acesso do sujeito ao seu gozo, ao seu desejo, à sua sexuação (Costa, 2010, p.9). 

Surge uma angústia e sintomas, indicativos conscientes do que se passa num rio subterrâneo de afectos inconscientes, entre as nervuras do real sob a pele. Podemos arrefecer apenas aos sintomas ou aprender a recontar a história sobre nós mesmos, abrindo frestas criativas para novos modos de ser/estar e, quiçá, inventar caminhos a novas Leis aos recém-chegados deste mundo. Estes corpos recém-chegados, como nós, precisarão também internalizar regras sociais e, com isso, renovar angústias e sintomas edipianos inculcados neles, mas agora por nós, seus pais e mães transgeracionais, num começo-meio-começo


Alguns, abrirão novas frestas ao real ainda impossíveis antes de nós. E a vida seguirá seu curso inconstante em metafísicas canibais, se renovando por novas angústias e sintomas. É se submetendo ao Pai e desejando a Mãe que nos (des)organizamos em sociedades tão pluridiversas. Era uma vez um profeta cego e errante vendendo ingressos para o espetáculo Bacantes de Zé Celso no teatro Oficina.


Síntese: Sempre há os desejos aceitos pelo socius em que vivemos - papai-mamãe, patrão, professora, padre… a LEI internalizada; assim como todos os desejos não aceitos pela LEI (e seus representantes). Os não aceitos serão reprimidos, produzindo neuroses, psicoses e perversões em diferentes graus entrecruzados - e seja o que as Moiras tramarem. Mas toda repressão encontra seus meios de retorno e demônios, exigindo sua parte na vida social. Por outro lado, os muito-bem-ajustados, se pensando o máximo, podem se deprimir, justamente, por exageradamente “socializados”, assim, esgotados do Si-Mesmo que construíram para eles se con.formarem


Qual a saída (im)possível? Enfrentar o desamparo em que estamos inseridos, com muita criatividade e um brincar com alma de um palhaço de festa infantil no recontar de nossas próprias histórias. Toda Cultura e Corpos podem falhar em seus (des)ajustes. A Arte existe como meio eficaz a dar vazão ao que não podemos imaginar de olhos abertos, não há coxia, platéia ou bilheteria, só o palco que estreamos sem aviso.


O Desejo que não posso e sua fantasias

O Complexo de Édipo é a elaboração de uma fantasia baseada no desejo, por isso é tão similar a análise, essa eterna reelaboração do Ser alguma coisa. Os meninos aprendendo a perder na disputa com o Pai (que os castram), se sentindo parte do coletivo e das Leis que lhes organizam por dentro e por fora. A disputa pelo amor da Mãe é perdida, enfim, pois o Pai tem um Falo maior que o filho (e a filha nem o tem, a castraram de saída). São todos signos, sem dúvidas, mas demora para se compreender assim: o que significam os símbolos que fantasiamos em fantasmas, demônios e divindades?


A grande renúncia (ou sacrifício) é que devemos ser convencidos a aceitar abandonar o amor da Mãe pelo Pai, reprimindo o parricídio. Mas é que essa hostilidade, não nos abandona nunca, como bem descrito em Totem e Tabu (Freud, 2013). Esse rancor pelas Leis que o Pai representa e precisamos introjetar, e o sacrifício ao Amor da Mãe, retorna projetando tabus que nos lembram da morte e seus espíritos que estarão sempre nos espreitando. Ou é isso, ou a culpa que Édipo carrega pela morte do pai, o suicídio da Mãe e a cegueira autoimposta acompanhada do exílio e marginalidade social. 


Há uma estrutura-estruturante de nosso psicossoma-social que não começa com o nascimento, mas herdamos de nossos antepassados. Deste modo, há uma investigação transgeracional que acompanha qualquer processo psicanalítico. O Eu, é um Nós num intrincado percurso sem-fim - a cobra mordendo o próprio rabo. A nossa história se confundindo com a dos nossos avôs que se em.brinca com a da Mãe, influencia nossos Pais, imaginando Leis e castrações a que todos se impõem pelo o amor e o carinho à humanidade que devemos representar (Násio, 2007, p.62). 


Para conseguirmos ser o que nunca saberemos por completo, nos resta perspectivas, sempre incompletas e inacabadas de nós mesmos. E a cada cont(r)ação de nós mesmos (Corpos-Eu's), revisamos o próprio acúmulo de tempo que somos, num eterno do fazer-desfazendo - é que no final, nos transformamos em Moiras mais uma vez.


Comer esse pai tirânico e poderoso, que constituía um modelo invejado e temido, foi um meio de identificar-se com ele e apropriar-se de sua força. Depois de tê-lo eliminado e de ter satisfeito seu ódio e seu desejo de identificação com ele, voltaram a predominar as moções ternas. Isso se deu na forma de arrependimento e, assim, nasceu uma consciência de culpa. (Costa, 2010, p.17) 

A tragédia de Édipo representa a rebelião de todas as famílias. Quem poderá imaginar que uma revolta do avô ao culto de um Deus bêbado (Dionísio) e sua morte pelas belas e nuas discípulas bacantes, poderiam atormentar seu neto e o desgraçá-lo com desejos incestuosos e parricidas que carregamos ainda hoje? 


Aqui nos resta a lição que aos loucos e aos que amam, tudo se perdoa, por isso o tema básico aqui é o abandono ou desamparo como estratégia de uma vida que vale a pena ser vivida, pois, quase sempre, de tudo que fugimos, reencontramos no caminho.


Considerações Iniciais

Jocasta quando não se coaduna com Laio, ajuda (de alguma força) Édipo a matar Laio, o Pai, passando a morar empalhada no porão de uma casa velha com o seu filho psicótico: é uma maldição que recai a todos que insistem não obedecer à Lei coletiva e culto aos deuses orgiásticos. 


O Filho agora, sem-Lei/Super-Eu (e sem Eu, um desLeal) se confunde com a Mãe, que não suporta essa vergonha e culpa, se retirando da vida pela porta dos fundos. Por isso que no quarto da Mãe-Édipo, vemos um quadro com uma estrada que não nos leva a lugar algum, pausado ao lado de uma estátua de Hermes no canto, esse mensageiro divino e fofoqueiro que nos conecta com os mortos (Hitchcock, 1997). O quadro e a estatueta, como arte simbólica do ódio e da culpa que somos condenados a carregar: o desejo e a vergonha do parricídio e do incesto na casa de um psicótico.


Somos ambivalentes como filho de Hermes/Mensageiro do Inconsciente, o Grande deus Pã, outro discípulo de Dionísio que, provavelmente, estava entre as bacantes despedaçando Lábdaco (nosso avô-Edipiano). Como então não enlouquecer entre o que desejamos e o que a Lei proíbe, isto é, tudo aquilo que precisamos obedecer para estarmos investido de um Eu e não matarmos nosso Pai e entristecer nossa Mãe? A vida é perigosa, nos alerta mestre Rosa.


A solução talvez, esteja em abraçar o trágico, esse mal-estar civilizatório de saber que não vamos dar certo de jeito maneira, por isso viver sem expectativas nem pelo ideal-do-Eu que nos impõem ou do Eu-ideal que imaginamos. É nos lançar com os braços abertos e corpo nu (sempre com muita prudência) àquilo que não controlamos, essa indeterminação de Si e, quem sabe, manter o fogo ritual dionísico aceso e desejante, protegendo as próximas gerações do medo e da esperança, mas confiando (lit. confides ou com-Fé) no improviso dos corpos em desejo.


Referências Bibliográficas

ALMEIDA ALI, N.S. (2016) Corpo de Diadorim - abjeção, Deus e o Diabo. Ide São Paulo, 39(62): 167-182.

AMARAL, N. (2004). Amor e dinheiro: o falo na clínica da neurose obsessiva. Tempo psicanál, 36: 57-68

COSTA, T. (2010) Édipo. Rio de Janeiro: Zahar Ed.

DOS SANTOS, A.B. (2015) Colonização, Quilombos: modos e significados. Brasília: Unb Editora. 

FREUD, S. (2015) Análise da fobia de um garoto de cinco anos ("O pequeno Hans", 1909). In: Obras Completas Vol.8 (1906-1909).

FREUD, S. (2013) Totem e Tabu. São Paulo: Penguin-Companhia.

HITCHCOCK, A. (1997/1960) Psicose. Dirigido e produzido por Alfred Hitchcock, Estados Unidos: Paramount Pictures, 1960.

MARCHINI, W.L. (2016) Atravessando as margens: Uma leitura do conto “A Terceira Margem do Rio” na Perspectiva do Rito de Passagem. Teoliterária, 6(12): 216-222.

NÁSIO, J.D. (2007) Édipo. Rio de Janeiro: Zahar Ed.

SAFATLE, V. (2015) O circuito dos afetos. São Paulo: 2⁠ª edição revista. Ed. Autêntica.

VIVEIROS DE CASTRO, E. (2004) Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. Revista O que nos faz pensar, 18: 225-254.




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