Corpo não é plural, pois pluralismo pressupõe acúmulo e sobreposição de signos; corpo é multiplicidade ou coreografia de modos ou jeitos. Para se compreender corpo, há que desestruturar-se antes.
O corpo yogin em yogamento é movediço, por isso não o encontramos na anatomia ou fisiologia, mas em sua coreografia (tensões e intenSões): jogo de forças pedindo passagens e fechamentos. A tecnologia corporal indisciplinar yoguica, como seu arsenal de asanas ou im_posturas, mudras ou gestos, pranayamas ou condução dos ventos, kriyas ou limpezas e etc., são ensaios coreográficos a serem utilizados|incorporados na performatividade da vida. Tode yogin é um|a filósofe do corpo ou inventor de conceitos encarnados em potencial.
Quanto de vida|intensidades passam nas veias abertas de ideias|mentes tensionadas na duração de um franzir (dobras na pele) da testa? O quanto de movimento se faz necessário no gesto de dobrar os joelhos com as mãos juntas ao peito no fechar e abrir dos suryas ou numa torção da coluna. Tudo contém o organismo, corpos ou populações corporíficas estão sob (e sobre) estratos em relação.
Relembre o quanto (de força e distensão na intenção atenta) é preciso ser mobilizado em velocidades, repousos ou estabilidades num savasana?
Jnana prepara para o Hatha e todos os yogares são programas. O que me atravessa enquanto sentado lendo, pois olhar é corpo em movimento! Yogar é muito mais metabólico do que cinestésico. Por mais que se possa analisar fáscias e hormônios, estes não medem yogas - muito menos yogins em seus yogares.
Yogar|Meditar, como aprendizado freireano, é um fazimento de corpos enquanto corpo e seus afectos.
Aquilo que o comove, o toca, o abala, o fere, as formas como ele reage não expressivamente, mas performativamente àquilo que o afeta.
Yogar, seja uma sessão de prática num mat ou agora, enquanto lê, é um esforço (tapas) para:
(1) Sentir ou não passar intensidades (gunas), mas também, e sobretudo;
(2) Manter a atenção no que está passando;
(3) Não deixar de fazer passar, mas não tudo e nem qualquer coisa: não se trata de liberar geral, pois há que se construir uma espécie de barreira hematoencefálica das afecções decompositivas, abrindo os canais do que nos compõem e fechar-se as decomposições.
(4) Há que cuidar muito bem para não se atingir o pico|clímax|ejaculação. Isso não significa castrar-se, pois aí é não sentir; pelo contrário, é cozer no tempo certo seu corpo pelo fogo do yoga; tudo para não esfriar ou fritar: é ampliar sua superfície em afetar e ser afetado pela vida|natureza|corpos.
Seria isso um Nirvana, Moksa, Kaivalya e ver despedaçado toda a sua organicidade?
Seria yoga|yuj atar-se novamente aos fluxos vitais?
O corpo resiste sempre, enviando sinais sempre que nada passa ou passa muito. Populações de quimiorreceptores detectam hipoglicemia: “tô com fome, preciso comer”; ou percebem aumentos de CO2: “falta de ar, preciso respirar”. Todo excesso ou falta sinalizada para manter níveis ótimos de intensidades: homeostase divina!
A todo bloqueio, acúmulo ou esvaziamento, falta: formigamentos, dores, medos, raivas, choros, catarses como bichos selvagens enjaulados gritando passagens.
Todo corpo são encontros de populações, uma antropologia do corpo: revoada de pássaros, cada um singular mas um só corpo, uma inconstante unidade que alimenta o maya|ilusão de um Eu|alma|Self: acúmulo de tempo e acontecimentos que somos.
Inspiração: Laplatine, F. O modelo coreográfico.
Fazimento, cozimento lento, atravessamento pelo momento do regozijamento do aparecimento e desaparecimento de um pensamento sem polimento.