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Foto do escritorPhD. Roberto Simões

Yogas contraditórios são os diferentes de mim

Atualizado: 30 de jul. de 2022


Há núcleos yoguicos que lutam por manter suas hegemonias discursivas no poder - suas super-estruturas yoguicas. E todos yogas diferentes deles, são, consensualmente, considerados contraditórios por seus intelectuais. Em suma, lutam na perpetuação de narrativas distintivas - muito similar aos herdados pelo sistema de castas indiano. Denominaremos estes intelectuais de yogi(ni)s-sacerdotes, pois yogi(ni)s-filosofes não forjam mitos e ocultam oposições na mente coletiva.


Os yogas-Outro ou “contraditórios”|obscuros sempre se atenuam quando admitimos que a racionalidade ou irracionalidade só podem se definir em relação a uma realidade “elaborada”. Mais simples, à realidade do português e sacerdote cristão Pe.Anchieta, nas praias de Itanhaém (litoral sul paulista), os indígenas dali eram imorais e des-almados - literalmente. Os yogas de matriz não-indiana ou “contemporâneos” serão sempre contraditórios se não atenderem às necessidades da realidade yoguica hegemônica - que é sempre uma construção subjetiva contribuindo para “estruturar ou instrumentar os interesses dos após já existentes” (Debrun, p.51).


Em outras palavras, o Yogaterapia de Hermógenes ou o Método de Yoga Restaurativo de Miila Derzett estarão sempre em disputa pelo direito de suas identidades na hegemonia hoje dos yogas de matriz-indiana, pois o consenso atual é que yoga de “verdade” é o da “tradição” (hinduísta, tântrica, vedântica, dos nathas, islâmica-sufista, alquímica...?). Mas isso é uma construção. Propomos yoga como filosofia quando inventa princípios ou conceitos de orientação à consciência coletiva de forma nomádica, pois “sedentarizando-se” dita normas de conduta (valores|moralismos): yoga sedentário está mais próximo do afeto religião para as massas do que filosofia engajada.


É aqui que yogi(ni)s-filósofes se distanciam dos yogi(ni)s-sacerdotes. O poder de afetar e ser afetado filosóficos do yoga busca participação direta nas lutas políticas e culturais. A cartografia dos yogas-filosofias interagem teoria e prática. Mas prática não são a utilização de suas técnicas corporais (apenas); e teoria não está na reprodução maquímica de suas escrituras “sagradas”.


Teoria e Prática na elaboração filosófica do(s) Yoga(s) devem contribuir na elaboração, difusão e envolvimento em atividades interacionais com a Realidade|Samsara e não fora dela. São os Yogas-Religiões que buscam geografias transcendentes. Agora podemos diferenciar os “yogas-contemplativos” ou religiosos dos “yogas-engajados” ou filosóficos. Enquanto os primeiros são replicadores da história, realizando suas previsões baseados no ontem e seus “universais”|dogmas|crenças; os segundos atuam no presente, abrindo suas próprias linhas-de-fuga criadoras.


Yogas engajados não capturam desejos alheios prometendo “vidas yoguicas perfeitas”, mas liberam tesões|paixões|desejos aguçando o intelecto e intuição na interação com a vida e não com a promessa de “vidas plenas”. Yoga como filosofia então não é um modelo de vida. Kaivalya ou Libertação de yogi(ni)s-filósofes não combina com servidão voluntária das igrejas yoguicas, com suas letras “perfeitas em si-mesmas” e séquito devocional com cantos iguais, roupas distintivas... yogi(ni)s-(lo)robotizados.


Isso não significa demolir Tradições... não, a propositiva aqui, a dos yogi(ni)s-filósofes (yogas em ação ou nômades) é a do criador: um “suscitador”, mas que nada cria... baseia-se na realidade fatual: é um(a) amante do agora (Amor Fati).


Como assim?

Este yogi(ni)-Filósofe no caminho de se libertar e alcançar “livre-pensamento” vai estar conectado (necessariamente) a um “programa”, pois nada surge do nada; mas precisa suscitar desejo|paixão|tesão, que pode vir uma instituição yoguica, contanto que seja “matéria-prima” e não um limitador.


Exemplos: Iyengar afetado pela “matéria-prima” escola de Krishnamacharya e outras, “suscitou” Iyengar-Yoga que, afetando Judith Lasater a fez usá-lo como matéria-prima para suscitar seu Relax and Renew.


Os yogas-filosofias (ou engajados), ao contrário dos yogas-religiões, não são um simples “rastro” ou consequência intelectiva, ou intuitiva, mas está inserido na realidade factual. É entrar no jogo da vida (Maha-Lila) ou da “brincadeira cósmica”: é uma “intuição-intelectual” e não uma adequação da realidade - em geral, às escrituras.


A prática yoguica-filosófica define sua teoria. Ela deve|pode redefinir o jogo de forças reais, e não o oposto: teoria ditando regras de vida, como modelos fascistas de yogar; pois yogas-fascistas se tornam hegemonias a partir de suas previsões e não intuições-intelectivas.


E, na prática, como tudo isso age? A prática yoguica-filosófica não precisa de fundamentos, pois existe do que é realmente dado: a realidade é absoluta. E não há nada mais fascista nos yogas do que interpretar experiências práticas. A teoria yoguica-filosófica-nomádica deve|pode abrir|dilatar potencialidades da prática e não o oposto. Teoria então é indispensável, porque é “um momento da prática”. Os yogas-fascistas (religiões), de outro modo, só possuem uma única forma de ser yogi(ni): a deles, óbvio. Estes direcionam o sentir dos outros (experiências), moldando aos seus: lo(ro)botizando todos e tornando-os seus discípulos|devotos.


Teoria e Prática Yoguica como filosofia (nomádica) são substantivas: não há graus distintivos. “Teoria&Prática”: intuição-Intelectual. Mil platôs yoguicos. Yogas-Filosofia-Engajado-Nomádica, assim como Yogas-Religiões-Transcendente-Sedentário, sejam de matriz-indiana-tradicional ou não-indiana-autodidata são todas super-estruturas yoguicas com uma infraestrutura que as mantém, ou seja, todos os yogas possuem uma razão real de existência; todas possuem motivações sendo inventadas por desejos coletivos.


São mayas. Mas os yogas-religiões prometem o fim das ilusões propondo as suas como universais; e os yogas-filosofias prometem o fim da alienação|ignorância e não propõem caminhos, mas clareiras. Kaivalya ou a Libertação do Yoga (seja qual for ele) não reside na destruição de materialidades, mas das “relações invisíveis, impalpáveis” que se escondem em suas coisas materiais. Se destrói enquanto cria outro. Alguém que só destrói se transforma não em “liberto”, mas em des-iludido: alguém sem ilusões. Daí nascem tantos ressentimentos, depressões, angústia, medo, orgulho e ódio entre yogi(ni)s.


Os yogi(ni)s nomádicos observam alegres surgirem estas belíssimas linhas-de-fuga yoguicas. As mesmas que os yogi(ni)s sedentários percebem como contraditórias, “deturpações” e|ou “apropriações” aos seus olhos devotados e viciados por moralismos. Eles temem seus consensos perderem a hegemonia e não mais se manterem no poder normativo do que é ou não yoga. Liberdade aos yogas-filosóficos está na des-alienação, o fim de Avidya|Ignorância e não das ilusões|maya. Como eles vivem no Real, não se esquecem do contraditório. Estes não buscam consensos, mas bom-sensos.

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